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Quem matou Karl Marx (por Felipe Sampaio)

Não seria exagero afirmar que a desigualdade social anda meio fora de moda nos últimos tempos

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1 de 1 desigualdade social - Foto: Agência estado

Não seria exagero afirmar que a desigualdade social anda meio fora de moda nos últimos tempos.  O assunto ganhou projeção principalmente a partir dos anos 1960, no auge do debate mundial pós-guerra sobre a independência das últimas colônias europeias do ‘terceiro mundo’ e fortalecido pela multiplicação de organismos multilaterais, ongs e estudos acadêmicos.

Enquanto isso, na América Latina o debate foi abafado durante a epidemia de ditaduras ao longo de três décadas, recobrando o fôlego nos anos 1980 com a redemocratização da maior parte dos governos da região.

Nessa época, mundo afora, pensadores progressistas deram destaque ao agravamento abissal da desigualdade de renda e concentração de riqueza, alavancado pela globalização financeira e produtiva da economia e turbinado por um consumismo insaciável.

Na verdade, o assunto da pobreza como expressão da injustiça social já era debatido desde o final do século XVIII, associado principalmente às formas de exploração do trabalho e ao imperialismo internacional, que aqui e ali resultaram ora em revoltas sociais, ora na humanização do capitalismo liberal. Em 1912 o matemático italiano Conrado Gini anunciou seu Índice de Gini, que media a distância entre pobres e ricos.

As duas guerras mundiais embolaram o meio de campo dessa discussão, que ainda enfrentou resistências políticas expressivas durante a chamada guerra fria. Contudo, o debate da desigualdade social chegaria à virada do milênio de vento em popa. Exemplo disso, é a publicação do IDH Índice de Desenvolvimento Humano, idealizado pelo indiano Amartya Sen nos anos 1990.

O século XXI chegou repleto de esperança e novas ideias. O Fórum Social Mundial estava no auge, com suas edições em Porto Alegre atraindo palestrantes como o pensador Noam Chomsky e o recém-eleito presidente Lula. Autores como Boaventura Sousa Santos, Viviane Forrester, Naomi Klein e Paul Singer pregavam que outro mundo era possível. Manifestações como a batalha de Seattle e outras na Europa contra a OMC davam o tom o movimento antiglobalização.

No entanto, numa direção oposta, o atendado de 11 de setembro contra as torres do WTC desencadeou a guerra ao terror, reeditando uma espécie de macarthismo (no estilo quem não estiver com o capitalismo está contra ele), muito bem representado pelas invasões do Iraque e do Afeganistão e as execuções de Bin Laden dentro do Paquistão e do general iraniano Soleimani em Bagdá.

O efeito foi como um balde de água fria nos movimentos, ativistas e organizações que atuavam no enfrentamento das desigualdades sociais, que tocavam na ferida aberta das diferenças sociopolíticas entre os países do norte e do sul do mundo, o que poderia ameaçar ainda mais a liderança geopolítica dos países ricos naquele período.

Nesse cenário, desencadeou-se uma fragmentação das causas sociais em temas diversos, como aquecimento global, opção de gênero, direito à cidade, raça e cor, segurança alimentar, justiça climática, entre outros.

Sem desconsiderar a importância desses enfoques para o desenvolvimento humano e a sustentabilidade da natureza, é preciso retomar o foco primordial sobre a questão política central de todos esses problemas da humanidade, seja como causa, seja como consequência: a desigualdade social.

 

Felipe Sampaio: atual diretor do SINESP no ministério da Justiça; foi assessor especial dos ministros da Defesa (2016-2017) e da Segurança Pública (2018); ex-secretário executivo de segurança urbana do Recife; cofundador do Centro Soberania e Clima.

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