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Quem Lula prefere enfrentar, Bolsonaro ou Moro? (por Juan Arias)

Tirar o capitão do poder seria para o ex-presidente libertar o país do perigo de involução golpista

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Andre Borges/Esp. Metrópoles
Moro e Jair Bolsonaro
1 de 1 Moro e Jair Bolsonaro - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

A notícia de que Moro se filiará ao partido Podemos em 10 de novembro é a confirmação dos rumores que corriam desde que o famoso juiz da Lava Jato decidiu entrar como ministro da Justiça no Governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro, após manobrar antes para impedir que Lula pudesse disputar as últimas eleições. Ao controverso juiz, visto à época como paladino contra a corrupção, já não bastava, em suas ambições, continuar sendo juiz de primeira instância e começou a pensar em tentar a sorte na política.

O restante de sua trajetória, sua saída polêmica do Governo Bolsonaro e sua ida ao setor privado são bem conhecidos, assim como suas ambições secretas de dar um dia voos mais altos, algo que hoje se confirma com sua decisão de entrar oficialmente na política.

Conhecendo a psicologia de Moro e suas ambições restam poucas dúvidas de que se ele decidiu dar o salto à política não se conformará em disputar o Senado. Vai querer voar mais alto e tentar disputar a presidência.

Isso suscita perguntas, que dariam lugar a um filme ao mesmo tempo em que remexe as águas já agitadas das próximas eleições recheadas de incógnitas. A primeira coisa que salta aos olhos é que a decisão de Moro de se lançar à arena da política pode criar a possibilidade de ocorrer um duelo final entre Lula e o juiz que o condenou, a vítima e seu verdugo. Seriam eleições que teriam repercussão mundial pela notoriedade dos dois personagens e pelas injustiças sob as entranhas desse duelo.

Ainda são muitas as incógnitas que se escondem nas próximas eleições presidenciais começando pelo fato de se Bolsonaro poderá e pretenderá disputá-las, ainda mais contra Lula, que para a extrema direita fascista significa a esquerda comunista e o inimigo a exterminar. E agora se acrescenta a possibilidade de que Bolsonaro também precise duelar com seu ex-ministro, com quem acabou em guerra até judicial.

Talvez a maior incógnita pela possibilidade de que Lula precise enfrentar Moro e Bolsonaro seja saber qual duelo preferiria. Sem dúvida não seria fácil escolher quem ele desejaria ver derrotado. Tirar Bolsonaro do poder seria para Lula libertar o país do perigo de involução golpista em que o capitão o colocou. O velho sindicalista sairia como o herói que salva a nação de um perigo real que ameaça gravemente a democracia e as liberdades individuais. Um sonho que, sem dúvida, Lula acaricia e para o qual já está se preparando sem querer fazer ainda muito alarde.

Mas a entrada em cena de Moro agora cria a Lula um novo conflito pessoal e psicológico por se tratar de ter, talvez, de enfrentar o personagem a quem considera culpado por ter sido injustamente condenado, o que o impediu de disputar e derrotar Bolsonaro nas eleições passadas economizando ao país o drama e os crimes cometidos contra as vítimas da pandemia e a grave deterioração da democracia e da economia que estão transformando o Brasil em um inferno político e social.

A única certeza por enquanto é que se não existir nenhum problema de saúde, Lula será candidato. Não é certo sequer que Bolsonaro possa ser, seja porque ainda pode ser retirado do poder e porque ele pode decidir não concorrer se perceber que perderá a disputa. Não é certo sequer se a terceira via, que busca a possibilidade de quebrar a polaridade de Bolsonaro e Lula, acabará encontrando um candidato com força eleitoral capaz de enfrentar os dois ídolos populares. Os egos que estão disputando esse lugar são muitos e por enquanto é difícil que os possíveis candidatos renunciem à sua ambição pessoal para apoiar a quem considerem com maiores possibilidades de derrotar Bolsonaro e Lula.

Como se sabe, além disso, no Brasil qualquer candidato às presidenciais que não aparece à grande massa de eleitores menos esclarecidos como um mito e um salvador da pátria, alguém conhecido por todos, tem poucas possibilidades de eleição. E é esse o problema colocado à terceira via, que ainda não encontrou um candidato com carisma popular suficiente.

Agora, com a possível entrada de Moro na contenda as coisas se complicam para todos, já que o ex-juiz é o único candidato hoje, além de Lula e Bolsonaro, que mantém a fama até entre os mais pobres de ter sido o juiz que levou à cadeia personagens importantes do mundo da política e do empresarial acusados de corrupção.

Sem dúvida que o hoje inocentado Lula, a quem Moro, considerado imparcial pelo Supremo em suas sentenças, condenou, não vai confessar contra quem prefere disputar as presidenciais. Certamente Lula estará, no mínimo, no segundo turno, como confirmam todas as pesquisas, e não será fácil a ele hoje decidir quem preferiria derrotar nas urnas, se o genocida Bolsonaro, que está levando o país ao abismo, ou o enigmático e rígido juiz Moro, que destroçou sua carreira e o fez sofrer as amarguras do cárcere como um malfeitor qualquer.

Para ele não deve ser uma decisão fácil, mas também não é impossível de se imaginar. Uma coisa é certa e se por fim Lula, Bolsonaro e Moro acabarem se enfrentando nas eleições, não restam dúvidas sobre com qual deles o Brasil poderá renascer das cinzas em que foi transformado pelo fogo de uma involução política que ameaça gravemente seu presente e seu futuro e que voltou a trazer a maldição dos ódios fratricidas e da fome da miséria.

E uma pergunta também enigmática: Antes de tomar a importante decisão de entrar na política e de disputar as eleições presidenciais, terá Moro conversado com as autoridades de alto escalão do Exército? E o mundo do dinheiro que se entusiasma mais com o lucro do que com a democracia? E o mundo religioso?

Lula é católico, Moro é evangélico e Bolsonaro, que está mais para oportunista, foi batizado nas duas confissões. E no Brasil sempre andam muito juntas a política e a religião, Deus e o demônio.

E uma última pergunta: Se Moro decidir, por fim, disputar as eleições, o Supremo encontrará alguma brecha judicial, como fez com Lula, para impedi-lo de disputá-las?

 

(Transcrito do jornal El País)

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