Propina no MEC: ministro cai, Bolsonaro adoece, dedo sujo (Vitor Hugo)
Dublê de pastor presbiteriano, Milton Ribeiro é um dos principais mentores espirituais e religiosos da primeira dama Michelle
atualizado
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O escândalo das propinas dos pastores evangélicos, no governo Bolsonaro, escabroso caso “cara no fogo” que abala estruturas no Ministério da Educação e Cultura (MEC) e desvãos poderosos e secretos do Palácio do Planalto, derrubou o ministro e pregador Milton Ribeiro – quarto nome a desabar na pasta – e levou o mandatário maior da República a novo internamento de emergência, em hospital do DF, com outra crise de “desconforto intestinal” – a exemplo da ocorrida após escandalosa passagem por praias, mares e fartas mesas catarinenses, no fim do ano passado. Redescubro ao acaso, uma das 100 melhores frases do ex-deputado e presidente histórico da Câmara, Ulysses Guimarães, incluído em “Rompendo o Cerco”, que virou um dos apêndices imperdíveis do livro referencial sobre o pensar e o fazer do mestre timoneiro da resistência à ditadura iniciada em abril de 1964, com a deposição do governo democrático de João Goulart.
Semana passada, quando da revelação dos vídeos sobre as tenebrosas transações no MEC – promovidas em nome do
Senhor, da Bíblia e do presidente da República, segundo as primeiras justificativas do ex-ministro Ribeiro – citei no Twitter, a breve mas exemplar frase de Ulysses, para pontuar um registro factual sobre o atoleiro em que Bolsonaro e o seu governo começavam a meter-se, ao sair de cara e bagagens (já que é moda alterar ditados populares), em defesa da honorabilidade da conduta do agora ex- inquilino do MEC, dublê de pastor presbiteriano, Milton Ribeiro – um dos principais mentores espirituais e religiosos da primeira dama Michelle. Enquanto o caso se espalhava em explosão nacional, de deprimente repercussão internacional, Ribeiro se enrolava cada vez mais, ao lado de outras estranhas e mefistofélicas figuras de pregadores bíblicos, que afogavam a pasta do ensino público federal e seu condutor, no pântano sem tamanho e sem fundo que o país todo comenta, de alcance e consequências imprevisíveis ainda. Mas já o suficiente para levar o morador do Palácio da Alvorada, em aberta campanha para a reeleição, a novo internamento de emergência (e estratégico, segundo críticos observadores de lupa e adversários políticos implacáveis), no Hospital das Forças Armadas.
Replico aqui a frase do Senhor Constituição 1988, por ser relevante e exemplar mais este caso da grande corrupção, que começa a chamuscar não só a cara, mas o corpo inteiro do mandatário do Planalto, e seus planos de continuar onde está por mais 4 anos. E que agora, em estado de visível abatimento e desesperação, aponta o dedo para adversários, na disputa eleitoral que se anuncia cinzenta e feroz por estas bandas, do lado de baixo do Equador, que já viu de quase tudo quando o assunto é corrupção. Mas, de repente, descobre que o assalto ao dinheiro e bens públicos segue inabalável e desafiador, com outros personagens. Agora aportada no MEC, que se revela antro de transações e malfeitos inqualificáveis, onde o ministro é flagrado orientando empenho de dinheiro público para prefeitos indicados por pastores evangélicos (Gilmar Santos e Arilton Moura), de trânsito e escabrosas ações também em gabinetes do alto poder no Palácio do Planalto. Na frase diz Ulysses: “Não pode apontar quem tem o dedo sujo. O corrupto suja a denúncia que faz. Não quer a moral, quer cúmplices”. Precisa desenhar?
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br