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Prioridade a escolas cívico-militares reforça viés ideológico

O governo não se mostra nem um pouco preocupado em melhorar os pavorosos índices educacionais brasileiros

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Marcos Corrêa/PR
Jair Bolsonaro ao lado de criança uniformizada em escola cívico-militar no Rio de Janeiro
1 de 1 Jair Bolsonaro ao lado de criança uniformizada em escola cívico-militar no Rio de Janeiro - Foto: Marcos Corrêa/PR

Editorial de O Globo (23/5/2022)

É conhecida a precariedade das escolas públicas do país, que sofrem com infraestrutura deficiente, escassez de professores e funcionários, falta de equipamentos, de conexão com a internet, entre outras carências. Mas as cívico-militares, uma das obsessões do presidente Jair Bolsonaro, passam ao largo da penúria. Como revelou reportagem do GLOBO, neste ano o orçamento delas mais que triplicou em relação a 2020 — de R$ 18 milhões para R$ 64 milhões.

Fica evidente que o Planalto privilegia as escolas cívico-militares, que representam apenas 0,15% da rede pública, em detrimento das demais. A distorção é tamanha que o programa, tratado como vitrine do governo Bolsonaro, terá neste ano o dobro de recursos destinados ao desenvolvimento do Novo Ensino Médio — importantíssimo para catapultar os índices educacionais do país — e dez vezes o previsto para a compra de ônibus escolares.

O problema não é a escola cívico-militar em si. É a diferença de tratamento e o uso ideológico pelo governo. Em maio do ano passado, o diretor de um estabelecimento cívico-militar na Zona Norte do Rio afirmou: “Nós queremos e podemos, nós somos nós, e o resto é o resto. Brasil acima de tudo. Abaixo de Deus. Esse é o nosso lema aqui na escola”. O Sindicato dos Professores do Estado do Rio classificou o discurso como doutrinação, pela referência ao slogan de campanha de Bolsonaro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”).

Parceria dos ministérios da Educação e da Defesa, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) contava com 216 estabelecimentos até o fim do ano passado. Estava presente em praticamente todos os estados. Ao explicar seus objetivos em novembro de 2021, Bolsonaro declarou: “O que nós queremos com as escolas cívico-militares é mostrar para todos os pais que, onde há hierarquia, disciplina, respeito, amor à Pátria e dedicação, a garotada tem como aprender e ser alguém lá na frente”.

O contraste entre a incensada rede cívico-militar e a convencional é gritante. Não custa lembrar que há cerca de 3.500 obras de construção e reforma de escolas e creches paralisadas por falta de recursos no Ministério da Educação. No mundo real que cerca a bolha do Planalto, crianças não têm sequer água encanada em seus colégios. Acesso à internet, que nos dias de hoje deveria ser serviço indispensável, ainda é artigo de luxo, deixando estudantes reféns do passado.

Lamentavelmente, o governo não se mostra nem um pouco preocupado em melhorar os pavorosos índices educacionais brasileiros, muito menos em recuperar os estragos provocados por quase dois anos de escolas fechadas, período em que o MEC abriu mão de seu papel para se tornar mero espectador. Sacudido por graves denúncias de que pastores sem cargo na pasta cobravam propina para destinar verbas públicas aos municípios, o ministério é um caos. Mas o presidente parece empenhado tão somente em impor a ideologia bolsonarista na educação e em turbinar programas que, a seu ver, o ajudarão no projeto de reeleição.

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