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Pragmatismo chinês (por André Gustavo Stumpf)

Investimentos para ampliar a influência de Pequim na América Latina

atualizado

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Bandeira da China
1 de 1 Bandeira da China - Foto: Getty Images

O novo capítulo do enfrentamento entre Estados Unidos e China começou semana passada. O líder chinês XI Jinping inaugurou enorme porto no Peru que deverá atrair mais de US$ 3 bilhões em investimentos, para criar uma rota direta através do Oceano Pacífico e ampliar a influência de Pequim na América Latina. As exportações dos países da América do Sul para a Ásia não mais passarão pelo México ou pelos portos dos Estados Unidos no Pacífico.

A inauguração do porto antecedeu a abertura do fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico e a reunião final de Xi com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden em Lima. Os dois estão a caminho do Brasil. Biden fará uma escala em Manaus. O chinês virá diretamente para o Rio de Janeiro participar da reunião do G20. Depois fará uma visita de estado a Brasília, quando deverá assinar com o presidente Lula uma série de acordos comerciais. Os emissários de Pequim não gostam de fazer guerras. Gostam muito de fazer negócios.

As empresas chinesas estão envolvidas em quase todos os aspectos do porto de águas profundas em Chancay, localizado a 80 quilômetros ao norte da capital, Lima. O centro de logística de alta tecnologia será operado exclusivamente pela empresa chinesa da navegação Cosco, que investiu US$ 1,3 bilhão em 2019 para assumir uma participação de 60% no projeto de US$ 3 bilhões. Na primeira fase, o porto receberá apenas navios menores. Quando pronto estará capacitado para trabalhar com enormes transportadores de containers.

Os guindastes de carga são fornecidos pela Shanghai Zhenhua Heavy Industries. Caminhões elétricos sem motorista fabricados por empresas chinesas serão usados para manusear contêineres e cargas. O interesse chinês no porto de Chancay provocou apreensão nos Estados Unidos porque abre a possibilidade de aquelas instalações serem utilizadas por navios militares chineses como ponto de apoio nas Américas. A presidente Dina Boluarte chamou o novo porto de “centro nervoso” que une o continente à Ásia, o que poderia criar 8.000 empregos e US$ 4,5 bilhões em atividade econômica anualmente.

A ministra Simone Tebet, do Planejamento, trabalha desde o início do governo, no projeto de integração da economia brasileira com a dos vizinhos. É um conjunto de rodovias, ferrovias e outras facilidades para levar a produção brasileira para os portos do Oceano Pacífico. Atualmente, a única ligação formal é por intermédio da rodovia interoceânica que liga atravessa os dois estados de Mato Grosso, Rondônia e alcança o Acre para chegar ao porto de Ilo, no Peru, que fica ao sul de Lima. O projeto da ministra naturalmente recebe críticas do PT por entender que o projeto prioriza interesses particulares e não sociais. Enfim, é, no entender dos petistas, um projeto com cores liberais.

Este é um caso diferente porque o governo chinês é o responsável pelo notável investimento em um país pobre que vive da exportação de minérios. Poderá se transformar no elemento essencial da negociação dos produtos da América do Sul com o promissor e crescente mercado dos países da Ásia. O G20, grupo que une as vinte maiores economias do planeta, foi criado inicialmente com preocupações econômicas para realizar aquilo que a Organização das Nações Unidas não consegue solucionar. Não possui, no entanto, um corpo técnico. A cada reunião os interessados conversam e tentam encontrar soluções.

O encontro do Rio de Janeiro será espetacular porque os cariocas sabem receber muito bem. Os estrangeiros devem ficar encantados com a cidade linda contida pelo formidável contingente policial e militar. Os criminosos sabem que é o momento de se recolher como ocorreu na ocasião da Eco92. O presidente Lula, que gosta de política externa, terá oportunidade de se reunir com os mais importantes líderes do mundo ou seus representantes. Joe Biden, depois de se despedir de vários chefes de estado, vai retornar para Washington já sob a sombra ameaçadora de Donald Trump.

Os petistas vão receber um banho de pragmatismo nas conversas com o presidente Xi Jinping e seus assessores. Ele vem ao Brasil fazer negócios e aumentar os laços da sua nova Rota da Seda, que pretende colocar o país mais perto do ocidente. Se os líderes do governo tiverem alguma memória vão se lembrar que a presidente Dilma perdeu seu emprego porque gastou demais e não conseguiu rearrumar suas contas a tempo. Cometeu as famosas pedaladas. Os chineses sabem a hora de avançar e recuar. Em pouco mais de 50 anos tiraram 500 milhões de pessoas da pobreza e ainda construíram um país forte em armas e tecnologia. Há muito o que aprender nesta visita de estado, que se seguirá ao G20.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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