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Por que os pobres votam cada vez mais à direita? (Por Juan Arias)

Se antes os ídolos deles eram os revolucionários da esquerda, hoje os ponteiros do relógio político parecem estar mudando

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Arte colorida de Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro sobre o mapa de São Paulo - Metrópoles
1 de 1 Arte colorida de Tarcísio de Freitas e Jair Bolsonaro sobre o mapa de São Paulo - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

Entre as mudanças históricas que abalam o planeta, e não apenas devido à inteligência artificial, está a abrir-se a preferência dos pobres por políticas de direita em vez de políticas de esquerda.  Os deserdados, aqueles que tiveram que se contentar com as sobras dos pratos dos ricos, votaram com esperança na esquerda e nas suas revoluções.

Esta preferência dos pobres pelos caminhos da nova direita foi confirmada, por exemplo, nas importantes eleições municipais que acabam de ser realizadas no Brasil, onde a luta entre a esquerda de Lula e a direita de Bolsonaro continua firme.

Se outrora os ídolos dos mais pobres eram os revolucionários de esquerda, a nível nacional ou local, hoje os ponteiros desse relógio político parecem estar a mudar, e quem oferece confiança aos mais desfavorecidos são os líderes da direita e mesmo da extrema direita .

O teste realizado no Brasil nas eleições municipais tem sido eloquente. A esquerda praticamente perdeu as grandes cidades onde se expandiu a busca por candidatos conservadores capazes de oferecer o que a esquerda antes lhes oferecia.

Os dois líderes antagônicos, Lula e Bolsonaro, se enfrentaram nas urnas desta vez para conquistar as grandes cidades. Ambos revelaram-se prudentes, sabendo que as areias movediças das ideologias estão a mudar, e se puseram quase à margem da disputa com os olhos postos nas eleições presidenciais de 2026, nas quais haverá novamente um confronto entre esquerda e direita .

E isso com uma variante: a esquerda chegará enfraquecida diante de uma direita que tenta se desintoxicar do extremismo e que entendeu que a massa de pobres, que no Brasil é a grande maioria, busca – mais que ideologias – políticas concretas que resolvam os seus problemas quotidianos.

Os pobres tornaram-se mais pragmáticos. Eles não querem mais fazer parte dos exércitos de trabalhadores comandados pelos empregadores clássicos do passado e com a ajuda dos sindicatos. Querem também ser pequenos empresários, em busca de independência econômica ou ideológica.

O carismático e perspicaz político Lula compreendeu isso e tem tido pouca visibilidade nas eleições municipais, tal como o seu adversário de direita, Bolsonaro. Tudo isto pode surpreender nas eleições presidenciais, onde provavelmente não será mais um duelo de ideologias, mas sim algo mais concreto e que ofereça à opinião pública respeito pelos novos caminhos que a política parece querer seguir após a crise de ideologias.

Lula entendeu isso e sabe que, se tentar concorrer novamente à presidência em 2026 apesar da idade, terá que se aproximar, como já começou a fazer, dos partidos não só do centro, mas até de uma direita mais civilizada para poder governar com um Congresso abertamente conservador. E, ao mesmo tempo, o líder impetuoso e golpista Bolsonaro que, apesar de estar inabilitado para concorrer a cargos públicos até 2030, continua a ser o centro de uma nova direita menos catastrófica politicamente e mais aberta às reivindicações dos jovens que estão a pressionar para abrir novos caminhos mesmo dentro da direita, talvez mais pragmáticos e menos ideologizados.

O resultado do segundo turno das eleições municipais de São Paulo, a maior e mais rica cidade da América Latina, onde se enfrentam a esquerda lulista e a direita de Bolsonaro, será mais um sinal de como as coordenadas políticas estão mudando no Brasil. Curiosamente, ali, tanto Lula quanto Bolsonaro ficaram à margem no primeiro turno, sem irem à guerra total. Compreenderam que o país está interessado em abrir novos caminhos para encarar os desafios do planeta.

O perigo é que esta ânsia dos brasileiros em apoiar líderes pragmáticos possa reforçar novos personagens que mais uma vez prometem, tal como a esquerda revolucionária no passado, paraísos de riqueza fácil fora da política. O “rouba, mas faz”, com o qual os brasileiros perdoaram os pecados dos políticos que realizaram obras sem olhar para ideologia ou ética, poderá se repetir, embora sob a nova roupagem no desmantelamento dos antigos esquemas ideológicos.

Tudo isto aliado ao medo que assola o momento atual, onde os perigos de novas guerras se misturam com o ressurgimento de novas ideologias que evocam o texto evangélico dos “lobos em pele de cordeiro”.

 

(Transcrito do El País)

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