*Por que a consciência é negra e não humana?* (por Basília Rodrigues)
Essas reflexões só são possíveis porque existe um dia da #ConscienciaNegra. Se não fosse essa data, não estaríamos tendo essa conversa
atualizado
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A data pela Consciência Negra cria uma verdadeira revolução no jornalismo e na política. Veículos de comunicação falam de negros, leis anti-racistas são aprovadas, pesquisas sobre “como vive o negro no Brasil?” são publicadas, casos de racismo são lembrados, até que o mês acaba.
É mais ou menos assim, fala-se de mães em maio; de papai noel em dezembro e da luta racial, o nosso racismo de todos os dias, em novembro. Amigos meus negros, referências em suas áreas, se indignam: por que são procurados somente em novembro? Somos negros 7 dias da semana, todo mês.
A data marca resistência, em memória de Zumbi dos Palmares, e provoca reflexões que chegam a incomodar muitas pessoas: por que esse dia existe? Por que a consciência é negra? Antes de tentar responder isso, é preciso traçar a diferença entre “o que é” e “como deveria ser”. Ok?
A consciência é humana –
deveria ser mas não é.
Todos são iguais –
deveriam ser mas não são.
Não precisa de data –
poderia mas não dá.
Por que não existe dia do branco? –
365 dias não são suficientes?
Essas reflexões só são possíveis porque existe um dia da #ConscienciaNegra. Se não fosse essa data, não estaríamos tendo essa conversa.
A consciência é negra por razões do passado, do presente e do futuro. A consciência é negra porque os negros e não os brancos foram escravizados por 300 anos neste país. Você lembra? Não. Pela nossa idade, a gente não viveu isso mas até hoje sentimos os efeitos dessa disparidade de direitos e oportunidades.
A consciência é negra porque é do negro que se exige mais resistência para passar por situações como uma pandemia, dado o nível de vulnerabilidade social. A pretensa liberdade de 133 anos atrás, produto da lei áurea, nos jogou nas periferias, onde ninguém queria ir, à margem da sociedade.
A consciência é negra porque a perfeita consciência humana nunca existiu e os negros precisam preparar as gerações futuras para que a trajetória de avanços, ainda que parcos, não seja estragada.
A data é provocativa, didática e simbólica. É bom ver alguém incomodado com o 20 de novembro, sinal de que o fez pensar nos negros. Mantenha-se assim amanhã.
Basília Rodrigues, comentarista política da CNN Brasil