metropoles.com

Política podre incita violência (por Mary Zaidan) 

Campanha eleitoral de 2024 já é a mais feroz de todos os tempos 

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Yanka Romão/Arte Metrópoles
Ilustração de urna eletrônica coberta com marcas de sangue
1 de 1 Ilustração de urna eletrônica coberta com marcas de sangue - Foto: Yanka Romão/Arte Metrópoles

O Brasil é um país violento, líder em número absoluto de homicídios no ranking de 2023 das Nações Unidas. Ainda que os assassinatos tenham caído 6% neste ano, o país ostenta números horripilantes, com 16,5 mortos por 100 mil habitantes, 18º lugar entre 196 nações. Mata-se por controle do tráfico, dinheiro, poder, ciúme; por motivo torpe ou sem qualquer motivo. Mata-se por desavença política. Por aqui, em vez de solucionar conflitos, a política tem sido combustível para a violência – que só aumenta.

Sete candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador foram mortos durante a campanha eleitoral deste ano. E há registro de 455 casos de violência contra líderes políticos da extrema esquerda e esquerda, direita e extrema direita, e até de centro, incluindo tentativas de assassinato, ameaças à vida e agressões.

Os números do Observatório da Violência Política e Eleitoral da Unirio, que desde 2019 coleta e analisa dados nesta seara, apontam que a disputa municipal de 2024 já é a mais feroz da série histórica. Até setembro de 2020, foram registradas 295 ocorrências; em 2022, 431. Confirmam, assim, que a violência cresce de forma consistente e contínua de eleição em eleição.

As tentativas de explicar essa escalada recaem sobre o ambiente de ódio disseminado pelas redes sociais, que estimulariam agressões, até com “convites” a seguidores para acerto de contas com adversários. A análise é correta, até porque as redes preenchem o sentimento anti-tudo de muitos, criando nichos de conforto dentro de verdadeiras gangues virtuais capazes de absurdos. O 8 de janeiro comprova isso.

Mas o buraco, como sempre, é mais fundo. O domínio das redes é uma ação política, orientada e financiada por políticos, para o bem ou para o mal.

O ex Jair Bolsonaro, o deputado mineiro Nikolas Ferreira (PL), o mais votado do país, o autointitulado coach Pablo Marçal (PRTB), candidato a prefeito de São Paulo, são alguns exemplos do vale tudo no uso desses canais. Portanto, o problema não são as redes e sim o uso deletério delas.

São os políticos que incitam a violência; pagam por impulsão e engajamento. É o exercício da política que está podre.

Muito antes da cadeirada do tucano de ocasião José Luiz Datena em Marçal, e de o assistente de Marçal socar o marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB), ou do prefeito de Teresina, Dr. Pessoa (PRD), candidato à reeleição, dar uma cabeçada ao vivo e em cores no adversário Francinaldo Leão (PSOL), a degradação da política já estava escancarada. No Congresso Nacional o exercício parlamentar está resumido a selfies, as sessões nas comissões ou no plenário têm sido um festival de agressões verbais e até pancadaria com intuito de gerar vídeos para as redes. Reina a política dos likes.

Inventam-se fatos, falam-se impropérios sobre opositores, criam-se vídeos falsos com auxílio de inteligência artificial para obter mais seguidores. É preciso ter milhares, milhões, nem que sejam robôs, em uma corrida alucinada que passou a ditar o voto e, inclusive, sequestrou o jornalismo. Não são poucas as reportagens sobre o sobe e desce de seguidores de políticos, associando o volume à força de A ou B.

Mas o X do problema (desculpem-me pela obviedade barata) talvez resida no sucesso das mentiras nesse ambiente. Cabe aqui citar o levantamento do New York Times apontando que em apenas cinco dias (de 16 a 20/9), um terço das 171 postagens de Elon Musk, dono do X, com 200 milhões de seguidores no ex-Twitter, foram mentiras deslavadas sobre Kamala Harris em favor de Donald Trump, candidato preferido do milionário.

Políticos mentem desde sempre – não foram as redes que inventaram isso. Prometem o que não cumprem, são genéricos e não raro tratam o eleitor como otário. O palanque virtual deu mais eco às mentiras, replicadas a baixo custo e com a facilidade de um clique. Um crime digital indutor de violência real. É o que está posto ao eleitor que vai às urnas daqui a exatos sete dias. Esforço-me por algum otimismo.

 

Mary Zaidan é jornalista 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?