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Peronismo à procura de um candidato

Com a crise econômica, esquerda não tem nada a mostrar ou prometer. Só o medo da direita

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1 de 1 alberto-fernandez-e-cristina-kirchner - Foto: redes sociais/ reprodução

Na última sexta-feira, o presidente da Argentina, Alberto Fernández anunciou que não disputará as eleições de outubro. Juntou-se ao ex-presidente Maurício Macri à lista de desistências causadas pela alta rejeição aos seus governos. O cenário da corrida presidencial, entretanto, segue turvo, sobretudo no peronismo.

Durante o último ano, o kirchnerismo impôs inúmeras derrotas e escancarou a falta de apoio a Fernández, que desde o início de seu mandato esgrimou com a ex-presidente Cristina pelo governo do país. Foram anos de crises e reaproximações, e a impressão que Fernández sempre capitulava. Aceitar que Sergio Massa se transformasse em um superministro da Economia, só foi mais um dos capítulos. Mas, com 104% de inflação anual, a aposta não vingou.

Mesmo assim, Massa tenta costurar sua candidatura presidencial. Seu cálculo é reunir o peronismo ao seu redor e, com o apoio de Cristina, o segundo turno estaria garantido. E o segundo turno seria uma outra eleição. A seu favor, tem a aproximação com o empresariado e ser visto como um moderado. Mas a crise econômica o transforma em um candidato sem nada para mostrar ou prometer.

Nos bastidores da política argentina comenta-se que o nome de Daniel Scioli, embaixador da Argentina no Brasil, seria a resposta de Alberto Fernández para enfrentar o kirchnerismo. Scioli, ex-vice-presidente (2003-2007) e ex-governador da província de Buenos Aires (2007-2015), obrigaria a realização de primárias peronistas. O que Cristina e seu grupo querem evitar, já que evidenciaria o racha político. Sem Scioli, qualquer candidatura respeitaria o poder da atual vice-presidente.

Correm por fora Wado de Pedro, ministro do Interior, e Axel Kicillof, atual governador da Província de Buenos Aires. Sem nomes fortes ou propostas viáveis, Kirchner é o nome mais forte do peronismo para a eleição – ainda que ela arraste 60% de reprovação. Porém, desde que foi condenada em primeira instância em processo de corrupção, Cristina anunciou que não seria candidata. Como em um bom melodrama, ela aguardaria a voz das ruas e a agonia de seu campo político para mudar de decisão.

Pode-se dizer que a situação da direita não é muito melhor. Macri desistiu e seu partido, o Juntos pela Mudança, apostava na ex-ministra Patricia Bullrich. Só que, à revelia do partido, o atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, também se postulou candidato nas primárias de agosto. Lutas internas podem enfraquecer uma direita também sem propostas.

A eleição penderia facilmente para a direita não fosse o fator Javier Milei. O deputado de extrema-direita e seu discurso violento e antissistema vem ganhando força em um país empobrecido e desencantado. A dúvida é, se as pesquisas o favorecerem, parte do macrismo vai subir em seu barco? Assim, o voto de protesto pode vencer a eleição. O peronismo terá que escolher entre fortalecer-se no Legislativo ou enfrentar uma batalha interna por uma cadeira presidencial cada vez mais distante.

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