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Perde quem se picar (Por Miguel Esteves Cardoso)

O mal de ficar picado é dar a impressão de andar a reboque, fácil de controlar: quando se bajula, faz ronrom; quando se pica, faz “rau-rau”

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Win McNamee/Getty Images
Imagem colorida de Kamala Harris e Donald Trump no debate - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Kamala Harris e Donald Trump no debate - Metrópoles - Foto: Win McNamee/Getty Images

A diferença entre o Donald e a Kamala é que o Donald pica-se e a Kamala não se deixa picar. Trump picou-se quando Harris falou nas multidões que fogem dos discursos dele, tal é o tédio.

O mal de ficar picado é dar a impressão de andar a reboque, de ser fácil de controlar: quando se bajula, faz ronrom; quando se pica, faz “rau-rau”.

Notou-se que Harris é vice-presidente dos EUA, a caminho de ser Presidente, e que Trump é um ex-Presidente que já foi derrotado. Enquanto ela procura uma promoção, ele procura apenas uma restituição.

Em vez de se picar, Kamala ri-se. Em vez de se mostrar ofendida, mostra-se divertida: “Thank you for making me laugh.”

Ficar picado é mais democrático: reconhece estar num plano de igualdade com o picador.

Se alguém acelera ao meu lado antes de virar o sinal, a ver se me pico, eu deixar-me picar mostra que alinho na brincadeira: “Vamos embora, amigo! Aposto que lhe dou um bigode!” Mas se eu fizer como a minha mãe me ensinou, é como se não tivesse dado por ele: “Pobres selvagens: é nos semáforos que mostram a masculinidade…”

Trump é masculino no pior e mais óbvio dos sentidos: é um big baby, sempre a chorar e a bater com os brinquedos no berço, mas tem a mania que é o cowboy mais perigoso do Faroeste. Harris é calmamente feminina: fornece o mistério e deixa que sejam os outros a tentar resolvê-lo.

A experiência de ser vice-presidente e ter de aturar um homem-Presidente que não sabe muito bem o que está a fazer dá-lhe uma distância e um desprendimento irônico que valem mais do que qualquer desprezo.

Nota-se que estão ambos a lutar pelo mesmo pequeno grupo: os republicanos hesitantes. O medo de Trump é de ter ainda menos votos do que da última vez. (Eu sei porque já me aconteceu.) Já Harris está farta de ser derrotada. Não tem medo de ser derrotada mais uma vez, sabendo que, desta vez, se for derrotada, será derrotada por muito menos do que da última vez, quando competia contra Joe Biden.

É uma vantagem enorme.

(Transcrito do PÚBLICO)

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