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Parodiando Chico Buarque (por Antônio Carlos de Medeiros)

As pedras de Lula se movimentam para aproximação com o Senado e com o STF. Mas é preciso dialogar e conviver com a Câmara Federal

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Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva junta posa para foto de mãos dadas com Rodrigo Pacheco na residência oficial do Senado - Metrópoles
1 de 1 Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva junta posa para foto de mãos dadas com Rodrigo Pacheco na residência oficial do Senado - Metrópoles - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Há poucos dias, registramos aqui no Blog do Noblat que o presidente Lula começava a perceber que precisava entrar em campo na articulação política. Pois bem. Entrou.

Instintivamente, ele calibrou a bússola para a rotação da Realpolitik na política interna. O mesmo precisa ser feito na política externa. A resultante da operação das duas políticas é um jogo de soma zero. Abalou o prestígio do líder político Lula, para além da presidência da República.

Acostumado a agir como árbitro e deixar a micropolítica para seus ministros e assessores, ele agora é levado pelo imperativo da realidade a participar das negociações políticas – atuar no modo “prevenção de crises”, dado um quadro de instabilidade política. Seu prestígio e sua autoridade estão ameaçados pelo parlamentarismo branco movido a taxímetro de emendas (tomando emprestado uma feliz imagem usada por Maria Cristina Fernandes).

O presidente tem que enfrentar a tempestade perfeita da confluência de equívocos de varejo nas políticas externa e interna. Para recuperar a força simbólica e real da presidência da República – força institucional e política. Restabelecer a autoridade presidencial.

No xadrez cotidiano do processo político, as pedras de Lula se movimentam para aproximação com o Senado e com o STF. Mas é preciso dialogar e conviver com a Câmara Federal – com ou sem Arthur Lira, cujo poder é transitório.

Nesta direção, além de entrar em campo, o presidente Lula precisa ajustar a representatividade do seu gabinete presidencial. A composição do ministério não representa, hoje, a mediana de formação partidária da Câmara. Partidos como o Republicanos e o PP estão ausentes ou sub-representados. É preciso voltar com a ideia de Frente Ampla: tanto no Parlamento, quanto na sociedade. Resignificar uma Frente Ampla.

Além deste ajuste, para além das fulanizações e do fogo amigo, está claro que falta na equipe de governo alguém que diga ao presidente quando não fazer alguma coisa. Isto é, falta (parodiando Chico Buarque) o ministro do “vai dar merda”. Alguém com estatura e experiência para divergir do mito Lula.

Saindo do plano da micropolítica e da fulanização, é preciso mirar não apenas a conjuntura. Isto significa internalizar a constatação que o arranjo institucional do parlamentarismo branco é foco de instabilidade. Olhar a estrutura.

Há que se ajustar as estruturas institucionais do sistema político em vigor. E continuar o processo incremental de reformas políticas, principalmente a democratização do sistema partidário oligárquico e a reforma eleitoral. Quanto ao semi-presidencialismo, na prática já está em vigor. Só que em padrão “jeitinho brasileiro”. Aí é que está o problema.

Tudo somado, o ambiente é de instabilidade política e incerteza econômica.

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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