Para onde vai o Brasil? (por Antônio Carlos de Medeiros)
Os resultados político-eleitorais indicaram a confirmação da opção da sociedade pelo “caminho do meio”,
atualizado
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O tempo político acelerou. Nem bem terminaram as eleições de 2024 e o país já mira as eleições de 2026. Não era para menos. O recado das urnas foi claro e contundente.
Um ponto de inflexão. Os resultados político-eleitorais indicaram a confirmação da opção da sociedade pelo “caminho do meio”, o centro do espectro político. Com menos ideologia e polarização e mais entregas de serviços públicos, bem-estar e prosperidade.
Só que para dar conta do recado é preciso cuidar de um pressuposto: ancorar as expectativas econômicas, políticas, institucionais e sociais. Desafio intrincado. Para o governo, o Congresso e o establishment.
É disto que estão cuidando as elites políticas neste momento. Com duas iniciativas simultâneas. Um pacote de corte e reestruturação de gastos públicos. E a costura de convergência para a sucessão na Câmara Federal e no Senado da República. São pressupostos para a ancoragem das expectativas.
Depois tem mais. No caminho para 2026, intuo que a porta da saída para a necessária estabilidade política e para a formação de maiorias de governo é a construção de uma “geringonça a brasileira”.
Ou seja, a formação explícita de um governo de coabitação, já a partir de fevereiro de 2025. Vamos ser claros e realistas: o presidente da Câmara dos Deputados é hoje, na prática, o Primeiro Ministro. O nosso semipresidencialismo branco é a nossa geringonça. É um fato. Nosso sistema político vai encarar?
E assim vamos a 2026. O Brasil optou pelo Centro. Mas o Centro ainda não conseguiu criar amálgama capaz para impulsionar uma liderança nacional. Este amálgama terá que vir de alianças no espaço gravitacional entre a centro-direita e a centro-esquerda, que hoje parecem ser as posições majoritárias – para além dos extremos. O “caminho do meio”. Com a direita em processo de divisão.
O Brasil tem, hoje, apenas dois líderes de amplitude nacional. Lula e Bolsonaro. Não existem (ainda) líderes nacionais com capacidade de liderança (nacional) e a capacidade de se comunicar com o povo brasileiro e costurar uma agenda de futuro com políticas púbicas e entregas. Sim: entregas. A sociedade foi clara. Menos retórica e mais entregas.
Vem daí a centralidade de nova agenda de futuro e de políticas públicas. Quem vai liderar a agenda? As eleições presidenciais brasileiras, já dizia FHC, são fulanizadas. Não se coloca de pé uma agenda sem um líder nacional.
Pode construir nova liderança até lá? Pode. Mas a preços de hoje os líderes nacionais são Lula e Bolsonaro. Lula já articula para agregar ao centro político, na costura das sucessões no Congresso e na eventual reforma ministerial.
Com a chamada direita dividida, Bolsonaro terá mais dificuldade em liderar o processo para 2026, se permanecer inelegível até lá. Mas agora deverá se beneficiar dos efeitos do “fator Trump” na política brasileira. A conferir.
Tem mais um “porém” para 2026. Além da costura da geringonça e da reconfirmação da liderança nacional, uma agenda de futuro precisa incorporar a emergência de uma cosmovisão liberal no país.
Não para fazer debate doutrinário. Mas para escolher prioridades de políticas públicas que contenham os traços essenciais do liberalismo social. Já é chover no molhado, mas não custa repisar o mantra: o mundo mudou, o Brasil mudou.
Mudou também na configuração das novas clivagens sociais, com repercussão no espectro político. Por isto, pensar e entender as opções da sociedade apenas com as grandes categorias “direita”, “centro” e “esquerda” já não dá mais conta de compreender o processo político.
O espectro político é um continuum com vários matizes e com movimentações pendulares, espelhando a movimentação das clivagens e demandas sociais. Tanto o corte da “luta de classes”, quanto o corte das clivagens regionais, já não conseguem mais dar conta da miríade de clivagens na sociedade do conhecimento e das redes sociais.
Sociedade da modernidade líquida de Zygmunt Bauman? Pode ser, sim. Com a formação de consensos em permanente mutação; e com ciclos políticos menos duradouros.
Para concluir, registro duas indagações finais. Dúvidas socráticas.
A primeira: quem sabe o Brasil poderá ter não uma, mas duas, Frentes Amplas para 2026, em eleições, mais uma vez, de segundo turno? (Pode ser que as eleições de 2026 venham a ter, como as de 1989, várias candidaturas no primeiro turno).
A segunda: o establishment brasileiro compreendeu e internalizou o efeito placas tectônicas que está em movimento na sociedade brasileira?
*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.