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Os supervulcões do juízo final (por Felipe Sampaio)

Ainda não é possível prever uma supererupção

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Reprodução / Icelandic Met Office
Imagem colorida mostra erupção de vulcão na islândia. - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra erupção de vulcão na islândia. - Metrópoles - Foto: Reprodução / Icelandic Met Office

“Viver é muito perigoso”, repetia Riobaldo em Grande Sertão: Veredas. E nas suas filosofâncias sobre a dureza da vida, o jagunço nem sabia da existência no nosso planeta desses mega vulcões destruidores de mundos. Tudo pode se acabar de uma hora para outra.

Acontece que existem duas dezenas dos denominados supervulcões espalhadas mundo afora e uns nove deles estão ativos (três nos EUA, três no Japão e os demais na Indonésia, Nova Zelândia e Guatemala). Nesse cenário, as explosões do Vesúvio, que devastou Pompéia em 79 d.C., ou do Monte Santa Helena em 1980, que equivaleu a 1600 bombas de Hiroshima, não passam de fogos de artifício perto da potência destrutiva de um supervulcão.

Para se ter uma ideia, os efeitos da erupção do supervulcão Toba, na Indonésia, há 70 mil anos, foi de tal magnitude que pode ter acelerado a emigração dos humanos da África (há 10 mil km de distância da explosão).

O mais preocupante desses supervulcões em atividade atualmente é o Campi Flegrei, submerso no litoral italiano, entre a ilha de Capri e a costa de Nápoles. Trata-se de uma caldeira de 200 km de extensão em torno da qual vivem mais de 3 milhões de pessoas. O poder do Campi Flegrei é tão descomunal que em 2023 a pressão de sua bolha subterrânea de lava e gás elevou o solo da região em 3,5 metros. O governo italiano tem um plano para evacuação imediata de meio milhão de pessoas caso esses sinais de erupção se agravem.

Outro desses arrasa-continentes é o Yellowstone, um supervulcão no norte dos EUA com cratera de 90 quilômetros de extensão e um depósito de lava 40 vezes maior do que a do vulcão Santa Helena. Sua explosão seria 2.600 vezes mais forte do que a do próprio Santa Helena em 1980 e causaria a mote de milhões de pessoas, extinguindo espécies animais e vegetais na América, com efeitos globais sobre o clima.

Para comparação, veja o caso da erupção em 2022 de mais um vulcão ‘normal’, o Tonga-Hunga Ha’apai, no meio Pacífico. Mesmo não sendo um supervulcão, a explosão do Tonga causou um tsunami com ondas de 45 metros de altura que provocou destruição e mortes desde o Peru e Chile até o Havaí, Rússia e Japão, devastando ilhas oceânicas no caminho. Expeliu fumaça e cinzas a 58 km de altitude levando à estratosfera uma tempestade elétrica inédita, com 200 mil raios. Imagine se o Tonga tivesse a força de um supervulcão.

O problema é que, ainda não é possível prever uma supererupção, tampouco sua potência total, podendo-se quando muito estimar seus impactos para que se elaborem planos de reação, com elevada margem de incerteza. Muitos dos supervulcões nem eram conhecidos até pouco tempo, porque suas explosões anteriores foram tão colossais que sequer formaram aqueles cones montanhosos típicos dos vulcões comuns, o que lhes dá a aparência de planícies inofensivas sob bosques, riachos e mares.

Contudo, esse tipo de evento com efeitos em escala global não deve nos desanimar sobre o futuro. Pelo contrário, são espetáculos naturais que servem para nos estimular a cuidar do equilíbrio dos sistemas da natureza que originaram e sustentam a Terra em que vivemos. São fenômenos acima da nossa vontade que nos mostram a urgência de cuidarmos dos processos que estão ao alcance das capacidades humanas, como é o caso do aquecimento global e da desigualdade social. Só assim a humanidade estará mais bem preparada para se adaptar aos efeitos de vulcões, terremotos ou asteroides. Afinal, “pra morrer, basta estar vivo”.

 

Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; dirigiu o SINESP no ministério da Justiça; foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; é assessor no ministério do Empreendedorismo.

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