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Os sobreviventes (por André Gustavo Stumpf)

Lula, na sua terceira versão é um fenômeno. Não há no mundo ocidental político que tenha sido eleito três vezes para presidente

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Lula, Janja, Allckmin e primeira dama Lu Alckmin fazem o L com as mãos em carro aberto na Esplanada dos Ministérios
1 de 1 Lula, Janja, Allckmin e primeira dama Lu Alckmin fazem o L com as mãos em carro aberto na Esplanada dos Ministérios - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

A história política do Brasil é complexa e misteriosa. Os dois homens que tomaram posse ontem na presidência e vice-presidência da República são, na realidade, sobreviventes. Ninguém poderia há dois anos imaginar que o resultado da eleição de 2022 iria colocar Lula (77), um presidiário, acusado de cometer crimes previstos no direito penal, e Geraldo Alckmin (70) praticamente expulso do PSDB, partido que ajudou a fundar e governou o estado de São Paulo por quatro anos. Os dois eram derrotados, além disso, adversários. O pragmatismo falou mais alto e juntos conseguiram a proeza de vencer a eleição comandando uma larga frente ampla.

Do presidente anterior se tem notícia, apenas que ele fez refeição numa lanchonete em Orlando, na Flórida. Comeu um cheeseburguer sozinho. Ele escolheu sair pelos fundos da história e da vida política. Não passou a faixa presidencial e foi substituído por um grupo interessante: uma mulher negra, um índio, um garoto negro morador da periferia de São Paulo, uma pessoa com problemas de locomoção e o cachorro vira lata, chamado Resistência, que estava em Curitiba latindo em favor do presidiário Lula. O povo brasileiro foi representado naquele momento singelo, solene e emblemático. O antecessor não fez nenhuma falta.

Lula, na sua terceira versão é um fenômeno. Não há no mundo ocidental político que tenha sido eleito três vezes para o cargo de maior projeção no seu país. Sem golpe, sem recorrer a ações judiciais, nem movimentar tropas de militares insatisfeitos. Além disso, teve que cumprir decisão judicial que o colocou numa prisão por 580 dias. O tempo passou, o vento mudou e Lula passeou ontem no Rolls Royce conversível, acompanhado por Janja, Geraldo e Lu Alckmin ao longo da Esplanada dos Ministérios a caminho do Congresso Nacional. Ali oficialmente jurou cumprir a Constituição e assinou o termo de posse.

O discurso não surpreendeu ninguém. Quem conhece Lula sabia que ele iria atacar as desigualdades que vicejam na sociedade nacional, dar garantias de que vai cumprir contratos e sinalizar que, na realidade quem vai comandar a economia é ele, embora Fernando Haddad sempre terá espaço para agir. Constou do cardápio do novo presidente também fazer o primeiro revogaço de leis de seu antecessor que tratam de meio ambiente, áreas indígenas, armas e sigilos de um século. Lula aparentemente conseguiu, contemplar os representantes de todos os partidos que compuseram a frente ampla.

A festa foi bonita. Teve emoção no discurso. Ameaça de choro e muita gente tanto na Praça dos Três Poderes, quanto na imensa área em frente ao Congresso Nacional. Demonstrou estar bem de saúde por ficar horas em pé para cumprimentar os dignatários estrangeiros. Foram 71 delegações que chegaram a Brasília para cumprimentar o novo presidente do Brasil. Os shows inundaram a Esplanada dos Ministérios. Mas, a farra termina. E amanhã será outro dia.

É importante lembrar que o desalento da população com os resultados apresentados pela gestão do Partido dos Trabalhadores no governo Dilma Rousseff produziu o fenômeno Bolsonaro. O antipetismo elegeu o capitão despreparado para presidir a nação brasileira. Um desastre. O tempo passou, o Supremo Tribunal Federal errou antes ou errou depois, mas o fato é que de presidiário Lula tornou-se pela terceira vez presidente da República.

Trata-se de desafio brutal, profundo, devastador, combate de vida ou morte para subir ao pódio dos grandes líderes brasileiros. Não há espaço para vacilo, nem erro. Lula não poderá agir da mesma maneira que fez antes e esperar resultados diferentes. Depois de chegar ao espaçoso gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto só lhe resta avançar para deixar seu cargo, daqui a quatro anos, maior do que entrou. Momento dramático da história do Brasil. Os dois Alckmin e Lula sobreviveram as armadilhas da política nos últimos anos. Serão chamados a ter paciência, agilidade e competência para atravessar os desafios dos próximos tempos. E desafiados a sobreviver de novo.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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