Os primeiros movimentos de Gustavo Petro rumo à “paz total”
Colombiano usa prestígio para mudar relação com as Forças Armadas
atualizado
Compartilhar notícia
No último sábado, o presidente colombiano Gustavo Petro suspendeu os mandados de prisão de alguns líderes do Exército de Libertação Nacional (ELN) para que possam reiniciar as negociações de paz, suspensas durante o governo anterior de Ivan Duque. Petro parece disposto a usar o prestígio de início de governo para enfrentar um tema central no país.
Foi uma semana em que ele falou em legalizar o plantio de maconha no país – uma das fontes de riqueza e poder do tráfico, que alimenta a corrupção. Anunciou mudanças nas cúpulas das Forças Armadas e da Polícia Nacional e ainda afirmou que, nos casos de crime contra civis, conhecidos como falsos positivos, os comandantes militares locais deveriam ser responsabilizados.
O caso mais polêmico foram as trocas na Polícia Nacional. Petro aposentou 22 generais para nomear Yackeline Navarro Ordóñez como subdiretora da entidade. É que por lei um chefe não pode ter um tempo de carreira menor que seus subordinados e Navarro era a número 23 na linha de sucessão. Petro escolheu ignorar a hierarquia da Polícia para mostrar que sua política de gênero é mais que simbólica, o que causou grande mal-estar na corporação.
A principal crítica dentro da instituição é que essa decisão fez Navarro ganhar um empurrão de 10 anos em sua carreira, ao custo de aposentadorias de oficiais com mais experiência e ascendência sobre os subordinados. Navarro é general desde 2020, tem respeitável formação acadêmica e foi diretora nacional das escolas de formação. Outra análise é que a política de justiça de gênero tem respaldo na sociedade, mas não dentro da Polícia.
Petro deixou claro que o processo de paz consumirá seus esforços no primeiro ano de governo. Para o ministério da Defesa destacou um civil, com histórico no combate à corrupção. E reforçou o convite para que mais grupos paramilitares e do narcotráfico integrem as negociações.
O presidente parece indicar um outro enfoque na luta contra o crime. “Não acredito que estamos numa situação que podemos qualificar de parapolítica ou paramilitarismo. Hoje estamos diante de um fenômeno mais difícil de resolver, são organizações multicriminosas”, apontando que o combate ao crime abarca além da segurança, questões jurídicas, políticas, financeiras e sociais.
Desde a campanha é delicada a relação de Petro com as forças de segurança. Quando Petro citou relações de militares com os narcotraficantes do Clã do Golfo, o comandante do Exército, Eduardo Enrique Zapateiro, desferiu um duro ataque e inflamou a direita antes do pleito. Os fardados não se esquecem que o mandatário integrou a guerrilha urbana M-19. Já Petro deve guardar as cicatrizes de sua prisão e tortura, em 1985, na Escola de Cavalaria do Exército em Bogotá.
Todavia ainda não se sabe quais são os planos do novo governo para reformar as forças de segurança. Parece haver a certeza que o modelo anterior, que perdurou durante mais de cinquenta anos e custou centenas de milhares de mortos, fracassou, e isso exige uma mudança de modelo e perspectiva. Entre erros e acertos, pode ser um exemplo para os novos presidentes de esquerda na América Latina e suas relações com as Forças Armadas.