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Os políticos cascudos e os entrantes (por Roberto Caminha Filho)

Nas ruas, a batalha é pela honra, ou, como dizem os mais cínicos, pelos contratos

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1 de 1 urna - Foto: Otavio Augusto/ Metrópoles

Eu bem que não queria fazer Marketing na FGV, mas fui obrigado. Todos os que chegavam eram marqueteiros de primeiríssima qualidade, sabiam mais que o Duda Mendonça e falavam da eleição do Clinton como se fosse a de Sucupira.

A briga pelas prefeituras brasileiras parece uma novela de enredo Global, com políticos veteranos, Cascudos, e os tais “Entrantes” travando uma verdadeira guerra de egos, promessas e, claro, memes.

De um lado, temos o “velho de guerra”, aquele político com cara de quem já plantou uma árvore na praça principal, com o lombo grosso de tanta porrada levada, mas mal sabe acessar o WhatsApp. Ele vem carregado de títulos: ex-prefeito, ex-deputado, ex- tudo e qualquer-coisa, mas ainda firme como um ouriço de castanha maduro no pé. A campanha dele é calcada no bom e velho discurso de moralidade: “Eu fiz e vou fazer de novo”. Só que a cidade inteira sabe que ele fez mesmo, mas não foi bem a ponte que prometeu, foi mais um puxadinho na casa de praia. A partir daí o pau canta.

Do outro lado, entra o novato cheio de energia e, claro, seguidores no Instagram. Ele não quer saber de discurso antiquado, vai direto no TikTok! Promete inovação, transparência e aplicativos para tudo. Se bobear, o cara já tá fazendo até live durante o debate, com um filtro de cachorrinho pra descontrair. A vantagem desse novo político? Nenhuma mancha no currículo, porque, claro, ele nem teve tempo de sujá-lo! Só que, na ânsia de ser moderno, às vezes promete mais do que a cidade quer: “Quem precisa de hospital quando se tem internet 5G, não é mesmo?”

E assim seguem as disputas: enquanto o veterano saca do seu arsenal de coligações, favores antigos e tapinhas nas costas, o novato parte pra cima com influenciadores, selfies e promessas de um “futuro tech”. Um promete resolver os problemas, o outro promete que nem vão mais existir problemas, só startups.

Nas ruas, a batalha é pela honra, ou, como dizem os mais cínicos, pelos contratos. O velho quer provar que ainda tem lenha pra queimar, mesmo que o fósforo já esteja úmido. O novato, por outro lado, quer mostrar que ele pode reinventar a roda, mesmo sem saber trocar o pneu.

E o eleitor, coitado? Vai decidir entre o político que já conhece, com seus erros e acertos (mas principalmente erros), e o novato que, no fundo, ainda está aprendendo a diferença entre um projeto de lei e um post patrocinado.

Ni qui, como dizem os cumpades, o Datena descarregou aquela cadeira no pobre do Pablo Marçal, levamos o WhatsApp para o bar e fizemos o julgamento. A coisa saiu melhor que o esperado. Os velhos esculhambaram o Datena e desqualificaram-no como brigador de puteiro. Os novinhos ficaram aprendendo e caladinhos. Chicão foi logo dizendo:

– Quando que o Datena vai se criar em uma Prefeitura como a de São Paulo? O cara nunca brigou em um puteiro. Levantou uma cadeira de pés de plástico, bateu de frente e com o lado almofadado e saiu bufando como um vencedor. Um cara pra dirigir São Paulo, deveria escolher um banco ou cadeira de madeira e descer com a quina do sentante. Era pá e casca! O Marçal iria ver a eleição lá do Sírio Libanês. O Datena não pode dirigir São Paulo pois já mostrou que é neném. No meio de tantos gigolôs, o cara será engolido até pelas surfistinhas. E por aí vai a moral dos nossos atuais políticos. O lado dos “Entrantes”, mostra tudo com mais facilidade para o prezado e inteligente “Eleitor Amigo” entender.

– Esse cara não tinha nada, agora, a mulher dele só veste Chanel e manda fazer seus perfumes na Riviera ou no Mônaco, na Fragonard e na Galimard e sai dizendo que acertou na compra da ação certa, recomendada pela XP. E os garotos dão show na Internet e saem com 75% dos eleitores até vinte e três anos. À noite choram para os pais e avós dizendo, cheios de lágrimas:

– Voinho, eu não quero mais ser deputado, agora, sonho em ser prefeito. Faz mais esse favor para esse netinho que mais te ama. E lá vai a família do pivete, que não sabe entrar em um supermercado, atrás de votos para o seu mimado de estimação.

Ah, mas que beleza de eleição para nós nos divertirmos e, logo após. sustentarmos!

 

Roberto Caminha Filho, economista, lembra do Ulisses, falando dos próximos eleitos

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