metropoles.com

Os pobres no orçamento (por Gustavo Krause)

Somente o progresso sustentável tira os pobres do orçamento em troca de oportunidades reais de ascensão social para o cidadão brasileiro

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Agência estado
desigualdade social
1 de 1 desigualdade social - Foto: Agência estado

No século XVIII, o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) classificava a vida humana como desagradável, brutal e breve, situação hipotética do “estado da natureza” o que levaria à inevitável destruição pela “guerra de todos contra todos”.

Inspirado na figura mitológica, Hobbes publicou Leviatã, em 1651, marco teórico do contratualismo. Instituído pelo conjunto dos indivíduos, o Estado todo-poderoso asseguraria segurança e prosperidade. Apesar das diferenças de abordagem, Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau mantêm vivo o debate sobre a natureza, a dinâmica e extensão do contrato social no equilíbrio entre os valores da liberdade individual e a harmonia coletiva.

Independente do fervor ideológico, o fato é que, em menos de três séculos, houve uma abrupta transformação na vida das pessoas. Trata-se de um fenômeno de tal ordem que tem desafiado o engenho humano a explicar causas e origens da grande contradição histórica: a riqueza e a pobreza das nações; o fracasso e a prosperidade das diferentes civilizações.

A propósito, nascido há exatos 300 anos, o filósofo escocês, Adam Smith, considerado “pai” da economia moderna, legou à posteridade o clássico Uma Investigação sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações (1776). Polêmico, às vezes, mal interpretado, o autor apurou e descreveu, após longos anos de observação, o funcionamento do sistema econômico. Não criou as malvadezas do mercado; denunciou a atração dos agentes econômicos pela fraude da competição oligopolizada; ressaltou os legítimos interesses de produtores e consumidores exercidos com liberdade.

Também não “criou” o modo capitalista de produção: Smith foi um arguto observador da vida econômica como ela é. E antes de se notabilizar pela obra magna, produziu A Teoria dos Sentimentos Morais (1759). Nela, defende como padrões mínimos de satisfação das necessidades básicas: “Estar livre da fome; das doenças e participar da vida política e social”. Acresce um conceito em voga atualmente “essa situação coloca o pobre fora da vista das pessoas”, um ser invisível.

Não faltaram, ao longo da história, ideias transformadoras; movimentos evolucionários, revolucionários e políticas públicas que se mostraram insuficientes na busca do ideal de justiça social.

Na era contemporânea de formidável afluência, vertiginoso progresso científico e tecnológico, agravaram-se as contradições universais que emergem em dois polos chocantes: milhares de novos bilionários e milhões de novos miseráveis, separados por uma desigualdade que coloca em risco o equilíbrio global.

Com intensa gravidade, soma-se ao passivo da desigualdade, o passivo ambiental que dá mostras evidentes de que a natureza se tornou ameaçadoramente escassa.

Sobre o futuro da humanidade em bases tão díspares, tem sido farta a literatura com obras de grande fôlego e profundas controvérsias sobre a consistência científica de predições plausíveis. Refiro-me ao Sapiens de Harari; ao recente “A Jornada da Humanidade – As origens da riqueza e da desigualdade de Oded Galor (visão mais otimista do futuro a partir da Teoria do Crescimento Unificado); Superabundância, Marian Tupy (a ser lançado em meados de abril).

Na mesma toada, o atual debate político no Brasil revela a gravidade dos nossos problemas sociais e tem como palavra de ordem do Presidente: “é preciso colocar o pobre no orçamento do Estado”.

A promessa de Lula esbarra em instituições políticas e econômicas extrativistas que prejudicam o bom funcionamento da democracia; o respeito à ética pública; o ambiente de negócio; a estabilidade e previsibilidade das políticas macroeconômicas.

Ao contrário, se instituições inclusivas fossem implantadas no tempo certo, sólidos alicerces dariam suporte à prosperidade sustentável de um Brasil mais justo.

Nesse caso, a palavra de ordem seria: vamos tirar os pobres do orçamento em troca de oportunidades reais de ascensão social para o cidadão brasileiro.

 

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?