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Os perigos do Natal (por André Gustavo Stumpf)

Este pode ser um Natal ainda mais perigoso porque no próximo já estaremos em outra dimensão política. Haverá um presidente eleito

atualizado

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Divulgação/Secretaria de Economia
Projeto Brasília Iluminada decoração de Natal
1 de 1 Projeto Brasília Iluminada decoração de Natal - Foto: Divulgação/Secretaria de Economia

O Natal é momento muito perigoso para jornalistas. É o dia em que na metade ocidental do mundo não há praticamente nenhuma notícia importante, salvo algum desastre imprevisto. Governantes e governados se dedicam a preparar a mesa da recepção familiar da noite. As famílias se organizam para confraternizar em torno da mesa possível.

Uns com espumante, outros com vinho barato. Mas é imperioso fazer um brinde, qualquer brinde.

Jornal, na moda antiga, era produzido por pessoas. Sem algoritmos. Naquela época, o fechamento no Natal tinha que ser puxado para o meio da tarde para que os gráficos também pudessem comemorar. O jornal precisava ficar pronto para ser impresso por volta das 15 horas. E, naturalmente, com o editorial sobre o principal assunto do dia. Esse era o desafio. Não há notícia importante no dia de Natal.

Estava na posição de comandar uma grande redação no dia de Natal. Pensei muito sobre o editorial e decidi escrever sobre o próprio Natal. Assim fiz. Havia na Roma Antiga uma festa linda chamada Natalis Solis Invicti, o sol invicto, comemorado no dia 25 de dezembro. É o solstício de inverno, quando a noite tem duração maior que o dia.

Mas o sol invicto vence a luta contra a trevas e chega no dia 22 de junho ao solstício de verão, no hemisfério norte, quando o dia tem duração maior que a noite. Ou seja, o sol vence. Ele é invicto no sentido de invencível.

A festa de Natal, no dia 25 de dezembro, começou a ser comemorada com sentido religioso por volta do ano 336 d.C., depois que o Império Romano se tornou cristão. Outro mistério é a idade de Jesus Cristo. Não há na Bíblia nenhuma indicação das feições do filho do Altíssimo, nem de sua idade.

Existe indicação de que que ele começou a fazer suas pregações em torno dos trinta anos de idade. Segundo estudiosos Cristo não nasceu no ano 1, mas seis séculos antes. A diferença entre os calendários juliano e gregoriano empurra datas de um lado para outro. Esta peculiaridade explicaria a confusão.

O Natal para o mundo ocidental e cristão é o momento de confraternização. Há sensação de que um ciclo se encerra e outro tem início. É momento de esperança, boas expectativas e renovação. Dito tudo isso, no dia seguinte, quando o jornal circulou com o meu editorial recebi do proprietário do jornal uma breve comunicação:

“Seu editorial está muito bem escrito. Mas no meu jornal, Cristo nasceu no Natal, dia 25 de dezembro. Entendeu”?

É claro que entendi. Repito a história aqui para demonstrar de público que aceitei e não discuto mais o assunto.

Contudo, este pode ser um Natal ainda mais perigoso porque no próximo já estaremos em outra dimensão política. Haverá um presidente eleito. Entre os candidatos, Lula reaparece no cenário como um poço cheio de mágoas e rancores. Já anunciou que pretende controlar a imprensa e as redes sociais.

Vai para o confronto. Poderá ter como candidato a vice, Geraldo Alckmin, uma surpresa de final de ano. O atual presidente, que acaba de colocar no Supremo Tribunal Federal um jurista terrivelmente evangélico, ameaça transformar o país em território dominado por visões religiosas fanáticas. Pode se transformar em inesperado aiatolá sul-americano.

Os outros candidatos serão obrigados a trabalhar com inteligência para vencer o fogo de barragem que se erguerá contra eles nas redes sociais. O bombardeio será diário, impiedoso, sem tréguas. O ano de 2021 foi o período em que, apesar do governo federal, o Brasil controlou a covid19. Os brasileiros chegaram a dezembro com número de vítimas fatais diárias inferior ao de janeiro. Mas a doença matou quase 618 mil pessoas no país sem que o presidente tenha feito uma única visita a hospital. Ele disse que todo mundo vai morrer um dia.

Já houve um Natal desastroso na história recente no Brasil. No último dia 13 de dezembro completaram-se 53 anos da edição do Ato Institucional nº 5, quando o regime militar rasgou a fantasia e assumiu sua postura ditatorial. Foi o início de um longo período de prisões sem culpa formada, torturas, invasões de redações de jornais e outras ilegalidades. Foi um Natal de fugir da polícia. Um Deus nos acuda. Durou dez anos o período de exceção. A Constituinte de 88 recolocou a liberdade na pauta brasileira.

O próximo Natal poderá encontrar, os que sobreviverem à doença e a recessão, em situação pior que a atual. Mas a vida é sempre maior que as nossas abstrações. E costuma surpreender. Dedos cruzados. Desejo feliz natal a todos. Assim seja.

 

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político 

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