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Orgulho de ser Brasileiro (por Ricardo Guedes)

O episódio de 7 de setembro e a passagem de Bolsonaro por Nova Iorque com seu discurso na ONU são vexames mundiais

atualizado

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Marinha do Brasil faz a troca da bandeira no mastro da BAndeira Nacional em Brasília
1 de 1 Marinha do Brasil faz a troca da bandeira no mastro da BAndeira Nacional em Brasília - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Não há do que se orgulhar de um presidente que incita continuamente a quebra da ordem institucional em pleno ambiente de normalidade democrática, sem que haja qualquer ameaça interna ou externa ao país, após o extremo fracasso da política econômica e de suas políticas sociais. O episódio de 7 de setembro e a passagem de Bolsonaro por Nova Iorque com seu discurso na ONU, diametralmente oposto e desconectado da realidade, são vexames mundiais.

Em Pesquisa Nacional da Sensus, 90% apontam os motivos para se ter e não ter orgulho de ser brasileiro. Dentre os motivos positivos, estão as “riquezas naturais” com 26%, as “praias e belezas naturais” com 10%, o “futebol e os esportes” com 6%. Dentre os motivos negativos, estão a “corrupção” com 41%, a “violência” com 17%, e a “pobreza e miséria” com 13%. Ou seja, os motivos de orgulho são os culturais e de nossas belezas naturais, e os motivos para não se orgulhar são os das atitudes e situação social.

Os indicadores econômicos e sociais do Brasil não são muito alentadores. Na economia, a renda per-capita é de US$ 8.900,00 anuais, abaixo da média mundial, de US$ 10.600,00. Na educação secundária, o Brasil ocupa a 59ª colocação no PISA dentre 79 países do mundo. Na segurança pública, o índice anual de homicídios por 100 mil habitantes é de 27, China com 0,5, Europa 1, Estados Unidos 5. Adicione-se o completo descaso para com o meio ambiente.

Adicionalmente, o Brasil apresenta aspectos pouco imagináveis no mundo moderno de hoje. Recentemente, o mais significativo é a esdrúxula e mal fundada discussão sobre o tratamento precoce para o Covid por meio de hidroxicloroquina, medicamento cientificamente comprovado como ineficaz para o vírus, defendido por Bolsonaro na ONU, motivo de galhofa em todos os países do mundo. Adicione-se a desinformação de que a OMS não recomendaria a vacinação para Covid dos adolescentes, agora revogada.

Roberto DaMatta, em sua maestria, sintetiza os símbolos e motivos que agregam o povo brasileiro. Se me permitam fazer uma leitura livre, em Carnavais, Malandros e Heróis, DaMatta discorre sobre os símbolos de nosso povo, o carnaval com a inversão antropológica das classes, o malandro que dá um jeitinho para navegar na sociedade autocrática, e o herói que simboliza a ordem e a hierarquia. Em O que faz o brasil, Brasil?, o primeiro Brasil com b minúsculo, o das dificuldades econômicas na sociedade autocrática, e o segundo Brasil com B maiúsculo, o do ufanismo de nosso país e de nossa gente, no futebol, na comida, na música, da gargalhada fácil em condições adversas, onde a feijoada une os diferentes polos em um amplo congraçamento social, DaMatta em muito resume o que poderíamos livremente chamar de o jeito brasileiro de ser.

Este é o nosso país, bom e ruim ao mesmo tempo. Que Bolsonaro não nos tire a graça, com nada a oferecer, ou a substituir, nem na economia nem na cultura, sem moeda de troca.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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