ONU: Relatório Brasil de Desenvolvimento Humano (por Felipe Sampaio)
O maior desafio do Brasil continua sendo a desigualdade social
atualizado
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O maior desafio do Brasil continua sendo a desigualdade social, apesar de ter havido progresso no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) brasileiro na última década. É o que mostra o novo relatório apresentado em Brasília no último dia 28 de maio pelo PNUD, o departamento da ONU que trata dos assuntos relativos ao desenvolvimento socioeconômico mundo afora.
O IDH é um índice multidimensional, composto por indicadores de renda, educação e longevidade. Foi idealizado pelo indiano Amartya Sen, vencedor do Nobel de Economia de 1998, partindo do princípio de que não se pode medir o desenvolvimento de uma sociedade apenas pelo seu desempenho econômico (como, por exemplo, pelo PIB per capita).
A nova edição do relatório, “25 anos: desenvolvimento humano no Brasil – construir caminhos, pactuando novos horizontes”, coordenada pela economista Betina Barbosa, traz um registro da evolução dos indicadores que tem merecido a atenção das autoridades, de especialistas e da sociedade civil. Ao analisar separadamente as variações desses números ao longo do decênio de 2012 a 2021, o novo relatório do PNUD consegue localizar claramente os estratos menos favorecidos da população brasileira, a exemplo do que já nos demonstram alguns estudos de outras instituições como IPEA e IBGE.
No caso brasileiro, as desigualdades mais acentuadas podem ser constatadas ao se confrontar os indicadores da população negra com os da população a branca, como também ao se comparar homens e mulheres. De maneira ilustrativa, se fôssemos montar um ranking de vulnerabilidade social, a ordem crescente (do grupo menos vulnerável para o mais vulnerável) seria: homem branco, mulher branca, homem negro e mulher negra.
Nas palavras de Cláudio Providas, Representante do PNUD no Brasil, “Entre 1991 e 2021, a expectativa de vida dos brasileiros avançou em 6,8 anos, a média de anos de estudo da população cresceu 4,4 anos e houve expansão de 40,1% da renda nacional per capita. [Contudo] O desafio está em como acelerar o progresso, [ao mesmo tempo] promovendo inclusão e reduzindo as desigualdades”.
As metodologias utilizadas pelo PNUD possibilitam analisar não apenas o quadro geral, mas também diversos recortes sociais e temporais. Foi possível, por exemplo, segregar o período da pandemia de COVID19 permitindo a constatação de que houve aí um retrocesso na progressão do IDH no Brasil, principalmente nos componentes que medem longevidade e renda.
Sendo assim, é possível esperar que os próximos relatórios do IDH Brasil tragam algum destaque especial também sobre as análises com recorte climático, considerando-se a relevância crescente que os impactos do aquecimento global terão sobre a expectativa de tempo de vida, a renda e a educação. Dessa maneira, o PNUD dará contribuição significativa para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com atenção especial sobre novos enfoques como racismo ambiental e justiça climática.
Todo esse debate sobre os desdobramentos sociais de um iminente caos climático, pode ser enriquecido ao se colocar na mesa evidências factuais e estatísticas que comprovem que os impactos das mudanças no clima afetarão de forma mais aguda os mais pobres.
Nessa direção, o recente relatório do PNUD já antecipa segmentos sociais que poderão ser mais vulneráveis também aos extremos climáticos quando menciona, por exemplo, que “As mulheres negras são mais suscetíveis a uma maior dependência dos rendimentos de outras pessoas; a menores possibilidades de estudo e a uma menor longevidade”.
Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; chefiou as assessorias dos ministros da Defesa e da Segurança Pública; dirigiu o SINESP no ministério da Justiça; foi secretário executivo de segurança urbana do Recife; é assessor no ministério do Empreendedorismo.