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Obra de séculos (por André Gustavo Stumpf)

Metade da população brasileira depende dos programas sociais criados pelo governo Lula

atualizado

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JEFFERSON RUDY/ AGÊNCIA SENADO
Cartão do Bolsa Família
1 de 1 Cartão do Bolsa Família - Foto: JEFFERSON RUDY/ AGÊNCIA SENADO

Metade da população brasileira depende dos programas sociais criados pelo governo Lula. As bolsas de todos os tipos beneficiam pessoas de baixa renda em diversos aspectos do mercado de trabalho. Estudantes têm vantagens, trabalhadores idosos também, compradores de residências e por aí vai, uma infinidade de benefícios para a população. Toda esta generosidade é bancada pelo governo federal. O governo tem conseguido exibir bons números de crescimento econômico, redução do desemprego, e uma inflação mais ou menos controlada, como resultado desta política. É a maneira petista de governar.

Esta é a questão estrutural da qual o governo não consegue escapar. Ele não reduz despesas porque se o fizer estará desmontando o seu próprio cardápio de benefícios que oferece às classes menos favorecidas. A contrapartida desta situação aparece na eleição. O presidente espera que os menos favorecidos votem maciçamente no Partido dos Trabalhadores e na sua eventual candidatura à Presidência para um quarto mandato. Diante deste cenário, não há como produzir um pacote de redução de despesas que seja eficiente. O que se corta no atual esforço é periférico e pouco relevante. O governo não pode fazer mais. E, sobretudo, não quer.

A solução encontrada é a pior possível: abrir os cofres e garantir aos parlamentares livre acesso às verbas governamentais. O governo Lula não tem projeto, nem metas, ele vive ao sabor das possibilidades momento e de algumas conquistas na política externa. O Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, é uma miragem. Não acelerou crescimento, nem introduziu novos ingredientes na economia nacional. Trata-se de uma relação de obras que o governo pretende realizar.  Os parlamentares não possuem nenhum compromisso com o supracitado PAC. Eles têm compromisso com o prefeito na sua base eleitoral que, por sua vez, tende a gastar o dinheiro através de empresa que seja amigável na próxima eleição. Não é um bom caminho para o desenvolvimento nacional.

Nenhuma doença acontece em bom momento. Mas a de Lula ocorre quando o presidente estava tentando dar a volta nos parlamentares – mesmo aqueles que jogam dinheiro pela janela para não explicara a origem da grana. A trepanação não é algo trivial. É uma operação delicada que exige perícia do cirurgião. O presidente vai se recuperar, mas precisará de tempo para reassumir na totalidade de suas responsabilidades. Esta internação joga também uma incógnita sobre a possibilidade de sua candidatura à presidência da República, quando terá 81 anos e dificuldades de um idoso cercado de problemas da idade. Joe Biden desistiu da campanha presidencial nos Estados Unidos por causa disso.

A política brasileira está muito rasa. A exceção de alguns feitos recentes da diplomacia, não há nada a comemorar, festejar ou ao menos discutir. A disposição dos parlamentares que se jogam sobre as verbas como famélicos em busca de um prato de comida. Não há sinalização de qualquer esforço para vencer as persistentes barreiras do subdesenvolvimento e do crescimento sustentável. O presidente se queixa da dificuldade do governo se comunicar. Não há boa comunicação de governo inseguro ou incapaz de definir seu rumo. A comunicação é deficiente porque é titubeante a ação do Palácio do Planalto. Tudo resulta da mesma desorganização.

Os dirigentes do PT estão desafiando as leis da existência. Todos somos finitos. Independentemente da função, da importância ou da riqueza. Não há alternativa para a eventual candidatura de Lula. O PT tem lançado na emergência Fernando Haddad para representar o partido, embora seja um de seus quadros, ele é professor, estudioso aplicado, sem carisma, nem experiência no movimento sindical. Bolsonaro já avisou a quem interessa que o candidato é ele, e ninguém deve se atrever a entrar nesta seara. São expectativas que se formam mesmo quando ainda faltam dois anos para a sucessão presidencial. Mas este é um processo que se organiza com o tempo.

A inelegibilidade de Bolsonaro poderá se manter se os tribunais resistirem à imensa pressão que virá de todos os lados, inclusive dos militares que tentaram o golpe. Eles querem a anistia para o chefe que será estendida a eles, naturalmente. Os próximos tempos serão tumultuados. A sucessão presidencial é sempre um momento de crise no sistema presidencialista. E no Brasil com tanta instabilidade os políticos terão que demonstrar uma capacidade negociadora que não mostraram até agora. Nelson Rodrigues, genial dramaturgo, dizia que subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista (andregustavo10@terra.com.br)

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