O trigo, a trigonelina e eu (por Roberto Caminha Filho)
Todos os meus ascendentes morreram com os platinados colados e sem direito a lixa de unha para o conserto
atualizado
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A comunidade científica mundial, com imensa pena da minha humilde pessoa, resolveu estudar os intestinos, o trigo, a trigonelina, o café, o alumínio das cápsulas dos Nespressos da vida e melhorou o nível de estresse em que os anos me envolviam.
Meus avós, meus tios, meu pai não falavam outro idioma que não fosse o de Fernando Pessoa, Bocage, Olavo Bilac e do Pero Vaz de Caminha. O português, eles falavam e escreviam como ninguém, chegando a dar inveja nos alemães. O Mr. Alzheimer, um alemão inescrupuloso que anda por aí, resolveu grudar em todos nós, quando começamos a treinar para soprar oitenta velinhas em nossas festas. É um amor louco que esse alemão entrega a todos nós. Uns são mansos e engraçados e outros ficam enciumados e violentos, enxergando chifres e espinhos atrás de todas as portas. As suas gatinhas, da vida inteira, se transformam em Marilyn Monroe, Ava Gardner e Candice Bergen. Seus amigos e políticos que aparecem no Jornal da CNN ou na BAND, passam a ser Alain Delon, Tony Curtis e Marcello Mastroianni. E as guerras começam!
Eu li um livro espetacular chamado “10% Humano” o que me levou a ler “Barriga de Trigo”, “Super Intestino” e outros, sempre envolvendo trigo, açúcar e intestinos. Cheguei à conclusão que os cientistas estavam tratando do meu futuro com muito esmero.
Os cientistas foram pra cima do trigo e descobriram coisas que fizeram com que eu começasse a odiar um pãozinho tão lindinho, com casquinha bronzeada como uma ipanemense e um cafezinho com cápsula de alumínio, grudador de leseiras no cérebro, que eu ainda não consegui o divórcio amigável.
O açúcar, coitado, está mais arrependido de existir que Judas. É considerado bandido em todas as nações e está esperando a sua vez de voltar a ser artista, como fizeram com o inescrupuloso ovo. Quem está para ser banido, juntamente com o açúcar, é o óleo vegetal e até o azeite de oliva, já está sendo enxergado com outras lentes, por ser amigo da manteiga e da margarina. Tiraram alguns químicos e aldeídos da margarina, enfiaram mais milho e a moça está se recuperando e já estamos vendo alguns médicos e nutricionistas sugerindo que se enfie os dentes nas torradas integrais cobertas de algumas margarinas reconstruídas.
Eu, coitado de mim, contando os dias, os oitenta anos já estiveram mais longe, se aproximando a uma velocidade inimaginável e eu me sentindo jogado no fundo de uma rede de cipó com as costas todas marcadas e os morcegos rondando para ver se sobra um vermelhinho.
Meus netos já me chamam de velhinho e velhote, quando esquecem as palavras Fôfo e Safadinho. A coisa não é fácil e espero que os meus aliados, cientistas e pajés, encontrem as soluções para barrar a terceira invasão alemã e me salvem.
Acredito, porque devo acreditar, nos estudos sobre a trigonelina que poderá melhorar a função muscular e o transporte da boa vida através da musculatura e do spray nasal que trata o ALZHEIMER e que limpa uma proteína de nome TAU existente no cérebro.
Vamos apostar nas novas fronteiras da ciência e evitar que a guerra contra a demência tenha a nossa vitória.
Todos os meus ascendentes morreram com os platinados colados e sem direito a lixa de unha para o conserto.
Nós somos malucos belezas. Vou só contar a história de um primo que namorou de porta com uma colônia de alemães.
O primo estava em uma janela, no décimo segundo andar do seu prédio, quando uma moça bonita, toda de branco, falou para ele:
– Doutor, vim te buscar, vamos?
– Pra onde queres me levar?
– Para perto da sua família que está esperando com festa.
– Onde é essa festa? A minha família já está quase toda no Céu?
– E como tu vais me levar para o Céu? Na cama?
– Não, Doutor, eu sou um espírito! Pule daqui que a festa começará.
Vai te F…, Alma FDP. Pula tu!
E assim ficarei declarando guerra a anjos e demônios.
Roberto Caminha Filho, economista, não aceita convites indecorosos de almas.