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O sonho (Por Gustavo Krause)

Marco Maciel compreendia a natureza do tempo que confere permanência aos feitos dos visionários

atualizado

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Foto: Agência Senado/Reprodução
Ex-vice-presidente da República, Marco Maciel
1 de 1 Ex-vice-presidente da República, Marco Maciel - Foto: Foto: Agência Senado/Reprodução

Tenho sonhado frequentemente com Marco Maciel. Dispenso abordagens científicas e psicanalíticas para interpretar a visão clara que ultrapassa os olhos cerrados pelo sono. A explicação é simples: não é um desejo oculto ou um mecanismo de compensação pelo encantamento do querido amigo: é desejo manifesto da imortalidade.

São imagens claras, encontros reais e o som nítido de suas sábias e elegantes palavras. Mas este sonho não se esgota no reencontro que satisfaz e reaviva os sentimentos humanos. Vai muito além. É um querer Político: a vontade de ver, como disse poeticamente Joel de Holanda, “Sua figura retilínea, homem bom/apoucado de corpo/mas robusto de caráter”, contribuindo com seus valores e atuação incansável no Brasil atual, desvairado de modos, ofendido pelos comportamentos que ameaçam a democracia e desviado do rumo de uma nação vocacionada para grandeza.

Cidadão Republicano, como se autodefinia, superava as rotulagens e o estreitamento dos “ismos”, Marco estaria trabalhando incansavelmente, como sempre o fez, para apagar o ódio que fomenta a violência; para construir convergências e consensos que aperfeiçoam as instituições democráticas; para demonstrar, pacientemente que o diálogo é o caminho para soluções políticas e duradouras.

Na tentativa de preencher o vazio, o sonho acende a lembrança que permite o milagre da vida renascida. Aí me vem a imagem do homem de Estado. Ele compreendia a natureza do tempo que confere permanência aos feitos dos visionários. Foi assim por onde passou: deixou um legado de princípios e uma verdadeira escola. Esta visão privilegiada me leva a fazer duas referências da percepção de Marco sobre o funcionamento das instituições: em 1992, o então Senador foi autor do projeto da Lei da Arbitragem 9307/1996; foi autor, também, do projeto 6131 de 23/01/1990 (Regulamento do Lobby) que tramitou por quase quatro décadas no Congresso para conferir transparência aos grupos de pressão.

Homem do diálogo, acreditava da política, síntese de ideias e ação, como força transformadora da sociedade livre e justa. Um belo percurso que dispensa repetir. No entanto, vale reiterar: humano, profundamente humano. Homem de inabalável Fé Cristã, respeitava todos os credos obedientes ao Deus-Pai.

Domingo 12 de junho, faz um ano que mora no Céu e no Coração da família, amigos e admiradores. Os meus sonhos continuarão porque acredito que na vida os corpos se abraçam; e na morte as almas se enlaçam.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

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