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O socialismo da “Geração Z” vem de SP e Recife (por Felipe Sampaio)

Tem algo inovador nas candidaturas do Partido Socialista Brasileiro para prefeito.

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Tabata Amaral e João Campos
1 de 1 Tabata Amaral e João Campos - Foto: Divulgação

Tem algo inovador nas candidaturas do Partido Socialista Brasileiro para prefeito. Em São Paulo, a deputada federal Tábata Amaral e, em Recife, o atual prefeito João Campos, revigoram o pensamento de esquerda que andava preguiçoso.

Com seus trinta e poucos anos, Tábata e João oferecem aos jovens eleitores da era digital uma linguagem progressista atualizada. Comprovando que o “Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens”, de Jean-Jacques Rousseau, continua valendo após três séculos, a dupla de candidatos socialista demonstra consciência do papel primordial de um Estado de direito assentado sobre um Contrato Social democratizante, arrematado até mesmo em tecido digital. E não se trata só de juventude, ou de habilidade com as redes sociais. Afinal, outros políticos da mesma geração têm usado a internet apenas para retocarem a “velha política”.

Tábata é um prodígio, nascida na periferia paulistana, de onde decolou para Havard para estudar Astrofísica, saindo de lá diplomada com louvor em Ciências Políticas. Coleciona em seu currículo conversas com Obama e Malala, e já integrou a lista das 100 mulheres mais influentes do mundo (BBC, 2019). João é herdeiro de uma linhagem socialista histórica, sendo filho do ex-governador pernambucano Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes.

Vale lembrar o contexto de polarização do eleitorado brasileiro que eclodiu no controverso impeachment da presidente Dilma, acirrou-se com a prisão polêmica do então candidato Lula e aprofundou-se ainda mais no período Bolsonaro, alcançando extremos em janeiro de 2023. Os ânimos mantêm-se exaltados – e no resto do mundo o clima não é diferente – com um tensionamento puxado por uma direita sectária (seja antidemocrática, seja ultraliberal).

A reação da esquerda democrática, aqui e no exterior, tem se mostrado lenta e desarticulada, com um envelhecimento do discurso e das formas de organização. No geral, as novidades alcançam agenda identitária e o debate ambiental. Contudo, saiu de moda a discussão que define a diferença essencial entre esquerda e direita, sobre as responsabilidades do Estado e o setor privado com a desigualdade social.

Nesse sentido, Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA falecido em 2023, registrou preocupação com a degradação da qualidade das lideranças políticas em seu livro “Liderança – Seis Estudos Sobre Estratégia Mundial”. Tendo convivido com De Gaulle, Nixon, Margaret Thatcher, Anwar Sadat e Indira Gandhi, o pensador americano percebeu um traço superficial na formação dos políticos atuais, que valoriza tecnicidades e burocratismos, em lugar da realidade social e da geopolítica. Também andava preocupado com o nível da comunicação política nas redes sociais.

É nesse ponto que os jovens socialistas João Campos e Tábata Amaral mostram a relevância das suas posturas. Mergulham no universo das camadas populares e da juventude, porém, indo muito além do uso meramente populista das plataformas digitais. Ao contrário, usam as redes sociais e a linguagem visual para renovarem uma proposição de socialismo inclusivo e abrangente, sem precisarem rebaixar o argumento político.

João disputa agora a reeleição para prefeito do Recife, embalado nos 75% de aprovação do seu atual mandato, exercido com cuidado especial com as comunidades vulneráveis (quem sabe, chegará a governador em 2026). Tábata tem “coragem de mamar em onça”, cumprindo seu segundo mandato federal e enfrentando sua primeira disputa para o executivo em uma das maiores cidades do mundo, com uma agenda focada na educação para todos e na redução das desigualdades.

De onde estiverem observando, Kissinger e Rousseau devem estar esperançosos.

 

Felipe Sampaio: cofundador do Centro Soberania e Clima; foi secretário-executivo de segurança urbana do Recife; dirigiu a área de estatísticas no ministério da Justiça; membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública; chefiou a assessoria do ministro da Defesa; é chefe de gabinete da secretaria-executiva no Ministério da Microempresa.

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