O PIB e as eleições no Brasil (por Ricardo Guedes)
Se o PIB cai, o incumbente e seus aliados perdem as eleições
atualizado
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É notável a correlação entre as variações do PIB e os resultados das eleições presidenciais no Brasil, com variáveis intervenientes, notadamente corrupção. Quando o PIB sobe, o incumbente vence ou faz o seu sucessor. Se o PIB cai, o incumbente e seus aliados perdem as eleições.
Desde a Constituição de 1988, em 1989 Collor se elegeu como 3ª via, no desgaste do PMDB de Ulisses Guimarães e da esquerda tradicional de Brizola. Collor e Lula vão para o 2º turno, com vitória de Collor com 43% do total do eleitorado. Collor assume com PIB de US$ 0,3 trilhões em 1989, sofrendo impeachment por indícios de corrupção em 1992.
Itamar assume em 1992, com Fernando Henrique como Ministro da Fazenda em 1993 e implementação do Plano Real, com controle da inflação e efeitos redistributivos de renda para a população. De 1993 a 1994, o PIB aumenta de US$ 0,3 trilhões para US$ 0,5 trilhões, com Fernado Henrique sendo eleito em 1º turno em 1994 com 36% do eleitorado. O PIB aumenta para US$ 0,9 trilhões em 1998, com Fernando Henrique sendo reeleito em 1º turno com 34% do eleitorado.
O PIB cai de US$ 0,9 trilhões em 2008 para US$ 0,5 trilhões em 2002 devido às crises cambiais, com Lula sendo eleito em 2º turno em 2002 com 46% do eleitorado. O PIB cresce para US$ 1,1 trilhões em 2006, com Lula sendo reeleito em 2º turno com 46% do eleitorado. O PIB cresce para US$ 2,2 trilhões em 2010, com Dilma sendo eleita em 2º turno com 41% do eleitorado. O PIB chega a US$ 2,6 trilhões em 2011 na esteira do legado de Lula, caindo para US$ 2,4 trilhões em 2013 devido a erros na política econômica, com fortes protestos sociais. Dilma vence Aécio em 2014 com 41% do eleitorado contra 39% de Aécio, sofrendo impeachment em 2015 devido às “pedaladas fiscais”. Em 2015, o PIB cai de US$ 2,5 trilhões para US$ 1,8 trilhões. Temer assume em 2016 tendo Henrique Meirelles como Ministro da Fazenda, com o PIB recuperando para US$ 1,9 trilhões em 2018.
Em 2018, Bolsonaro, como candidato de 3ª via devido ao desgaste do PT e do PSDB, vence as eleições em 2º turno com 39% do eleitorado. O PIB cai de US$ 1,9 trilhões para US$ 1,6 trilhões durante o seu governo. Nas eleições deste ano, Lula vence em 2º turno com 39% do eleitorado, Bolsonaro 37%, com 24% de abstenção, brancos e nulos.
Lula representa o PT e frente ampla que o elegeu, pela democracia. Bolsonaro mantém-se na expectativa da quebra da ordem institucional. Dos 37% dos votos em Bolsonaro, 20% representam seu núcleo duro eleitoral, 1% é radical. Bolsonaro dificilmente voltará a ser um líder significativo a nível majoritário nacional. Lula, para se reeleger ou fazer o seu sucessor, terá que ter êxito simultaneamente em três indicadores: crescer o PIB como condição para a continuidade, implementar programas sociais como plataforma de governo, e idoneidade na administração pública como quesito básico do eleitorado.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus