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O oásis de paz (por Marcos Magalhães)

Quando teremos paz, então? Ainda é difícil saber. A resolução de cessar-fogo chegou atrasada,

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Ahmad Hasaballah/Getty Images
Imagem colorida mostra Israel intensifica as operações militares em Gaza depois que uma trégua sustentada entre o Hamas e Israel não durou mais de uma semana, apesar das negociações diplomáticas e da libertação de prisioneiros - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Israel intensifica as operações militares em Gaza depois que uma trégua sustentada entre o Hamas e Israel não durou mais de uma semana, apesar das negociações diplomáticas e da libertação de prisioneiros - Metrópoles - Foto: Ahmad Hasaballah/Getty Images

A aprovação de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que determina cessar-fogo na Faixa de Gaza, após seis meses de conflito entre Israel e o Hamas, parece um daqueles oásis que os olhos cansados de guerra demoram a identificar.

Por ser do Conselho de Segurança, a resolução tem poder coercitivo – e a legitimidade que lhe confere a chancela do órgão mais importante da ONU. Mesmo assim, porém, nada garante que o governo de Israel esteja disposto a seguir a determinação.

Até pelo contrário, o ministro israelense de Relações Exteriores, Israel Katz, disse que seu país não suspenderá fogo “até que o último dos reféns volte para casa”. Como não há data previsível para isso, por enquanto tudo fica como está.

O Hamas, responsável pelo sequestro de civis em seu ataque a Israel, que deu origem ao conflito, se disse disposto a efetuar troca imediata de reféns por prisioneiros palestinos. Tudo dependerá, no entanto de minuciosas negociações.

Quando teremos paz, então? Ainda é difícil saber. A resolução de cessar-fogo chegou atrasada, pois deveria coincidir com o início do mês do Ramadã, período sagrado para o islamismo. Sua implementação pode atrasar ainda um pouco mais.

O Conselho de Segurança só conseguiu sair do impasse depois que os Estados Unidos decidiram se abster na votação. Ou seja, resolveram não usar o poder de veto que cabe a cada um dos cinco membros permanentes.

O texto, apresentado pelos 10 membros não permanentes do conselho, estabelece um “cessar-fogo duradouro” e pede às partes que criem condições para que o conflito se mantenha suspenso mesmo depois do Ramadã.

A bola agora está com Israel. Somente o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu poderá ordenar a paralisação de uma ofensiva que deixou terra arrasada por onde passou.

E aqui entramos no terreno minado da política. A extrema-direita de Israel, que apoia Netanyahu, reluta em ceder às Nações Unidas. Talvez prefira ir até o fim na ocupação de Gaza, mesmo que isso signifique a perda de muitas outras vidas.

O governo israelense também não parece se sensibilizar com a posição de seu maior aliado, os Estados Unidos. O presidente Joe Biden já disse que Netanyahu precisa prestar mais atenção às “vidas inocentes perdidas”.

Biden alertou ainda que Israel ultrapassaria uma “linha vermelha” caso venha a invadir a cidade de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, onde estão um milhão de palestinos.

Até mesmo o ex-presidente Donald Trump, de posições mais favoráveis ao governo israelense, demonstrou cautela após a decisão do Conselho de Segurança.

“Israel precisa tomar cuidado, pois está perdendo muito apoio pelo mundo”, alertou Trump, em entrevista a um jornal conservador, Israel Hayom, citada pelo The New York Times. “Vocês têm que concluir a tarefa e prosseguir para a paz, para uma vida normal para Israel e todo o mundo”.

O desfecho do conflito, que tem potencial para se transformar em uma tragédia ainda bem maior, dependerá do resto de bom senso que ainda puder existir junto às lideranças de Israel e do Hamas.

Os excessos dos dois lados, até aqui, não apenas ampliam a dor dos habitantes da Faixa de Gaza, como exportam exemplos de polarização e radicalismo prontamente acolhidos ao redor do mundo por políticos dispostos a elevar a temperatura política.

Esse parece ter sido o caso dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Goiás, Ronaldo Caiado, que estiveram em Israel.

A viagem ocorreu depois do conflito diplomático que envolveu os dois países, após as declarações do presidente Luís Inácio Lula da Silva, segundo as quais apenas no Holocausto teria havido massacre tão grande de inocentes como no atual conflito em Gaza.

“Fiz questão de levar meu pedido de desculpas a todos os israelenses por uma fala infeliz do presidente da República”, disse Caiado.

Marcou pontos com a extrema-direita bolsonarista, que gosta de portar bandeiras de Israel em suas manifestações? Provavelmente sim. O que pode ser útil ao seu projeto de concorrer ao cargo de presidente da República em 2026.

No mais, serviu apenas para acirrar os ânimos em um país já suficientemente polarizado. Como se o Brasil precisasse de um ingrediente a mais, importado do Oriente Médio, para a sua já conturbada disputa política.

Quando se referem ao conflito em Gaza, a esquerda e a direita no Brasil têm sido estridentes e inflexíveis em seus pontos de vista. Há pouco espaço nas declarações para a defesa da boa e velha solução negociada de conflitos.

Talvez seja o reflexo de um mundo igualmente polarizado, onde o bom senso muitas vezes desaparece no horizonte. Parece menos com um oásis e mais com uma miragem.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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