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O novo Brasil de Lula e sem Bolsonaro (Por Juan Arias)

O presidente eleito não pode esquecer que foi eleito por ter criado um bloco de forças capaz de enfrentar o bolsonarismo

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Arte Metrópoles | Foto: Fábio Vieira
lula e bolsonaro em debate
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O turbulento Brasil de Bolsonaro com suas conotações fascistas desapareceu? O Brasil luminoso de Lula voltou com suas conquistas sociais? Existe hoje um Brasil novo, sem precedentes, cujo objetivo final ainda é desconhecido? Essas são algumas das perguntas feitas por brasileiros que tremiam diante de um possível golpe militar.

Ainda não é fácil responder com certeza a essas perguntas, já que a situação no Brasil se desenvolve sob as areias movediças da incerteza. Bolsonaro perdeu as eleições, mas seus anfitriões continuam ferozes e não se contentam com a derrota. Isso é demonstrado pelas manifestações das centenas de caminhoneiros acampados em Brasília em frente ao reduto militar exigindo o golpe.

É verdade que os militares, dos quais mais de 6.000 foram colocados no governo por Bolsonaro, aceitaram a derrota do ex-capitão de extrema-direita, mas continuam mantendo uma atitude um tanto ambígua.

Os seguidores do líder de direita estavam confiantes de que a vigilância que o Exército mantinha antes das eleições, mesmo contra a Constituição, poderia levar à anulação do plebiscito que conferia a derrota do mito.

A reação dos militares era a última esperança de Bolsonaro e seus seguidores. Esperavam ter encontrado algum meio para contestar o resultado da derrota eleitoral. Isso não aconteceu, pois o documento de 70 páginas elaborado pelas Forças Armadas revelou que não foram encontradas falhas importantes para anular o resultado das urnas. Os seguidores de Bolsonaro não se conformaram e exigiram um novo posicionamento dos militares, mobilizando centenas de caminhoneiros em Brasília.

Em um segundo documento, o Exército quis presentear os bolsonaristas revoltados e declarou que, embora não tenham sido detectadas falhas nas urnas, isso não significava que não pudessem ser vulneráveis. Foi uma resposta diplomática, que não disse nada.

Tudo isso deu à equipe vitoriosa de Lula, amparada por dez partidos que vão da extrema esquerda à direita liberal não golpista, uma nova força para se mostrar eufórica e com mãos livres para realizar as reformas, especialmente as sociais. Assim, as verdadeiras lágrimas de Lula foram vistas com bons olhos quando ele afirmou que seu sonho é que ao final de seu mandato não haja um único brasileiro que não consiga comer três refeições por dia.

Não há dúvidas de que o novo governo Lula será fortemente marcado por seu caráter social e não ideológico. Onde a polêmica ainda pode irromper é na formação de seu novo governo, que pode não ser fundamentalmente de seu partido, o PT, mas de uma gama de partidos que vão da esquerda ao centro e à direita liberal.

Daí as dificuldades que Lula está tendo para escolher alguns de seus principais ministros, da Economia ao Meio Ambiente e ao Itamaraty, já que pretende restabelecer as relações do Brasil com o resto do mundo após o isolamento a que Bolsonaro o condenou.

Daí a importância da recepção que Lula começou a ter na Cúpula do Meio Ambiente, no Egito. Será seu primeiro teste internacional, já que nessas cúpulas Bolsonaro foi bastante evitado pelos demais chefes de Estado para não se comprometer com suas alucinações do golpe e da extrema-direita fascista.

Tudo isso é importante neste momento para Lula, que não pode se enganar nem esquecer que não foi eleito apenas pela força de seu partido, mas porque criou um bloco de forças, todas elas democráticas, capazes de enfrentar o bolsonarismo em suas raízes.

Como destacou Catarina Rochamonte em sua coluna no jornal O Globo: “Não há carta branca para o novo governo. Se a maioria dos brasileiros fez uma varredura dos enormes erros cometidos pelos governos petistas, não foi por amor a Lula, mas por horror a Bolsonaro”.

De fato, é uma verdade que começa a se mostrar importante na formação do novo governo Lula. O que talvez menos importe agora é que o PT aproveite a ocasião para colocar na nova administração o maior número possível dos seus quadros, mas sim que contribua na montagem de uma frente forte contra o bolsonarismo, que é a grande ameaça à democracia.

São aqueles momentos da história em que surgem verdadeiros estadistas, capazes de afugentar os monstros da desintegração política e das tentações autoritárias. A verdade é que para Lula, que jura que esta será sua última aventura política, pode ser o momento em que se firme como um verdadeiro estadista capaz de tirar o Brasil do inferno.

(Transcrito do El País)

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