metropoles.com

O não-país (por Mary Zaidan)

Dominado por líderes populistas, o Brasil joga suas virtudes no lixo

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Getty Images
Bolsonaro caminha ao lado de bandeira da república do Brasil-Metrópoles
1 de 1 Bolsonaro caminha ao lado de bandeira da república do Brasil-Metrópoles - Foto: Getty Images

Nos últimos tempos, tenho a impressão de viver em um não-país. Nada parecido com a destemida Ucrânia que o tirano Vladimir Putin taxa como um não-país. Até porque lá a resistência forjou um líder, enquanto por aqui a mediocridade de populistas domina. Habitamos um Brasil regido por um desconcertante pouco caso com as aflições humanas, dúbio, que emite sinais confusos, ressuscita corruptos e joga no lixo boa parte de suas virtudes. E isso não é de hoje, começou muito antes da covarde invasão de Putin à Ucrânia.

Diante da guerra, somos Dois Brasis. Não só os de Jacques Lambert, com as latentes desigualdades sociais sintetizadas por ele e que continuam se aprofundando há mais cinco décadas, mas em uma esfera em que o país sempre fora referência: a política externa.

Na ONU, o Brasil condena Putin, enquanto o presidente Jair Bolsonaro o adula. Uma barafunda apelidada de “posição de equilíbrio”, embora não pare em pé.

Bolsonaro, diga-se, é um dos maiores propagandistas do nosso não-país. Mergulha em desatinos de que nações ricas querem a Amazônia ao mesmo tempo que impulsiona a destruição da floresta. Reduz a fiscalização do Ibama, faz vista grossa aos desmatamentos e às queimadas, estimula o garimpo ilegal que deseja ver se esparramar por terras indígenas.

Ao mundo, já havia provado sua absoluta incapacidade em fóruns internacionais e nos pouquíssimos encontros bilaterais, um deles com Putin, a quem prestou solidariedade dias antes de o russo iniciar a matança de ucranianos. Por aqui, o presidente já havia dado mostras incisivas de sua indecência, escancarada no descaso e empatia zero no trato com a pandemia que tirou a vida de mais de 650 mil brasileiros, no acobertamento dos malfeitos de sua prole, na obsessão pela reeleição.

No âmbito da Justiça, o Brasil condenou meio mundo de políticos e empresários no Mensalão e Petrolão, recuperou recursos milionários desviados para financiar campanhas e engordar bolsos. Tudo anulado pelo não-país.

Não por inocência dos réus, mas por “suspeita de suspeição” do juiz da primeira instância e tecnicismos como foro de origem, que acabaram por anular todas as provas contra o ex Lula e que, agora há pouco, “perdoaram” as rachadinhas de Flávio Bolsonaro. Nas eleições de outubro, além de Lula, outras figurinhas carimbadas por condenações suspensas no nosso não-país devem disputar votos.

Na Procuradoria-Geral de Augusto Aras nada contra Bolsonaro anda e no STF, o aliado Nunes Marques garante a paralisia de todos os julgamentos de interesse de bolsonaristas. Uma maravilha de não-país.

Lula, candidato à Presidência e líder em todas as pesquisas de opinião, também aposta no não-país. Insiste nos laços com ditadores ditos de esquerda, repudia, mas com moderação excessiva, a guerra insana de Putin. Chega ao cúmulo de pedir que os dois lados baixem as armas, equiparando a vítima ao agressor. Exala dubiedade, tibieza.

Ao mesmo tempo que se move para marcar posição frente a Bolsonaro, tem de agradar aos seus, que, para condenar o imperialismo norte-americano, entregam-se à cegueira. Fecham os olhos para a frieza assassina de Putin, as prisões de opositores, a narrativa mentirosa que só se mantém com censura férrea aos meios de comunicação.

A loucura é tamanha que na mesma sexta-feira leio o petista frei Leonardo Boff reclamar que a guerra ofuscou a visita de Lula ao México nas “TVs corporativas”, e o ex-bolsonarista deputado Arthur do Val, candidato ao governo de São Paulo pelo Podemos de Sérgio Moro, dizer que as ucranianas “são fáceis, porque são pobres”.

 

Chega de não-pais. Quero o Brasil de volta.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?