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O ‘momentum’ de Kamala (por Marcos Magalhães)

“Kamala Harris tem o ‘momentum’”, estampou o jornal londrino no dia marcado para o início da convenção do Partido Democrata

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1 de 1 Imagem colorida de Kamala Harris - Metrópoles - Foto: Andrew Harnik/Getty Images

“Momentum” é uma palavra inglesa difícil de traduzir. Alguma coisa como “o ímpeto obtido por um objeto em movimento”, nas palavras do Dicionário de Oxford. Pois foi essa a palavra escolhida pelo jornal Financial Times para definir o atual estágio da candidatura de Kamala Harris à presidência dos Estados Unidos.

“Kamala Harris tem o ‘momentum’”, estampou o jornal londrino no dia marcado para o início da convenção do Partido Democrata que vai oficializar a candidatura da vice-presidente à sucessão do atual presidente, Joe Biden. “Agora vem o teste real”, anunciou.

Nos vários exemplos que podem ser colhidos nos dicionários, a palavra muitas vezes aparece como carro-chefe de uma expressão. Pode-se dizer que “a ofensiva ganhou ímpeto com a chegada de novas tropas”.

O exemplo vem bem a calhar. Pois os democratas contam mesmo com suas tropas bem-motivadas para enfrentar nas urnas o ex-presidente Donald Trump, que era favorito para voltar à Casa Branca até a desistência de Biden de buscar novo mandato.

Mais de cinco mil delegados estarão reunidos até quinta-feira, em Chicago, na convenção democrata. E os relatos colhidos entre eles por enviados especiais de órgãos internacionais de imprensa indicam que o ânimo começa a virar a favor da nova candidata.

É o caso de Nancy Quarles, antiga militante democrata em Detroit ouvida pelo mesmo Financial Times. “Existe alguma coisa totalmente nova na campanha”, relatou. “Nossos telefones não param de tocar!”

Ouvido pela CNN, o aposentado Santo Gonell, um dos policiais feridos no Capitólio por simpatizantes de Trump há três anos, vai discursar na convenção. E pretende apresentar o voto em Kamala como sinônimo de defesa da democracia.

“O fracasso de Donald Trump em denunciar a violência em 6 de janeiro de 2021 é uma traição a todos os oficiais que colocaram suas vidas em risco naquele dia”, afirmou.

Ao redor do mundo, a ascensão da candidata tem muitas vezes sido interpretada como um sinal de que a democracia americana se manterá de pé. Há também, por diferentes motivos, indicativos de preocupação e de admiração.

Existe preocupação, por exemplo, em Beijing. Segundo a revista inglesa The Economist, os dirigentes chineses ainda estão processando a chapa democrata, formada por Kamala Harris e Tim Walz.

A primeira, afinal, teve apenas um breve encontro com o presidente Xi Jinping. O segundo já esteve mais de 30 vezes na China e mantém uma relação afetuosa com o país.

A confirmação da chapa democrata, diz a revista, desafia a interpretação “niilista” da China sobre a política americana, definida como “racista e decrépita”.

Por outro lado, prossegue a revista, a chapa desafia a elite política chinesa a imaginar como seria a nova relação bilateral, “uma vez que as credenciais de Harris em lidar com a China são limitadas, enquanto Walz tem mais experiência de China do que qualquer candidato a vice-presidente em décadas”.

As palavras de admiração ficam por conta do escritor irlandês Colum McCann, a quem o jornal parisiense Le Monde abriu suas páginas para comentar o processo eleitoral nos Estados Unidos. Para ele, também, a candidata democrata pode ser uma novidade contagiante.

“Quando a hora chega”, escreveu McCann, ao adaptar do masculino para o feminino um antigo ditado, “a mulher também chega”. Na opinião do escritor, a escolha de Kamala “corresponde ao desejo de um novo tipo de herói americano”.

Será? Por enquanto, a afirmativa poderia ser vista com simpatia por 51% dos americanos, que, segundo pesquisa da rede de televisão CBS, pretendem votar nela para presidente.

A mesma pesquisa indica que 48% dos eleitores dos Estados Unidos ainda querem ver Donald Trump de volta à Casa Branca. Os dois são certamente dois tipos bem diferentes de heróis. O que parece indicar, também, que há dois tipos bem diferentes de americanos.

Até a chegada de Trump, com seu messianismo adaptado ao século 21, diferenças sempre ocorreram. Democratas e republicanos, progressistas e conservadores. Mas nunca levaram a uma ebulição como a de 6 de janeiro.

Quando um tiro atingiu de raspão a orelha direita de Trump, há um mês, durante comício na Pensilvânia, parecia que nada poderia deter a rápida ascensão de sua candidatura. O caminho estaria aberto para seu retorno ao poder.

A política, porém, tem seu próprio tempo. E, a julgar pelo antigo ditado citado por McCann, a hora de Kamala Harris pode ter chegado.

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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