metropoles.com

O mito da riqueza do petróleo (por Eduardo Fernandez Silva)

Países extraem e exportam petróleo há anos, mas suas populações continuam, na maioria, paupérrimas

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução
Imagem colorida de poço de petróleo na Faja Petrolífera do Orinoco, área com mais petróleo do mundo - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de poço de petróleo na Faja Petrolífera do Orinoco, área com mais petróleo do mundo - Metrópoles - Foto: Reprodução

Venezuela (119º), Nigéria (161º), Angola (150º), indonésia (112º), Iran (78º), Cazaquistão (67º), Iraque (128º), Brasil (89º) e México (77º) são países que extraem e exportam petróleo há anos, e suas populações continuam, na maioria, paupérrimas. Números entre parênteses indicam suas posições, entre 190 nações, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), medida preferível ao PIB para indicar a qualidade de vida da população. Na “riquíssima”, esbanjadora, autocrática e misógina Arábia Saudita, o IDH é elevado, mas 33% vivem com menos de US$5,00/dia, enquanto na Costa Rica, carente de petróleo, fica na 62ª posição no IDH, é de 20% a proporção nessa condição.

Sem os antolhos que os lobbies petrolíferos colocam em nós, bastam os dados acima para ver que a riqueza decorrente da exploração do “ouro negro” é um mito; ele enriquece, e muito, uma pequena minoria, cuja dinheiro lhes permite definir políticas públicas. Dada essa força, usam a mentirosa promessa de melhorar a condição humana para forçar a continuidade da sua exploração, negando a consequente degradação!

Enquanto isso, continuam cada vez mais graves a destruição ambiental e humana decorrentes da queima de combustíveis fósseis e da busca por mais e mais PIB: recordes de calor quebrados sucessivamente; custos crescentes dos eventos extremos; metade hoje, mais amanhã, da população mundial com falta d’água; a insuspeita OCDE estima que, sem radical mudança de rumo, em duas décadas a temperatura média do planeta terá subido entre 3ºC e 6ºC; a poluição do ar compromete até o cérebro da maioria das crianças em todo o planeta, e as empresas de petróleo seguem ganhando subsídios da ordem de US$10 milhões/hora, globalmente, de acordo com o FMI.

Com todos esses e muitos outros sinais, como seguir explorando combustíveis fósseis e perseguindo aumentar o PIB? Argumentar que queimar mais petróleo vai tornar a vida melhor é fechar os olhos às evidências e à ciência e, ainda, acelerar a hecatombe.

Nas últimas seis ou sete décadas as novas tecnologias e as políticas públicas que buscam o crescimento do PIB aceleraram a degradação ambiental, multiplicaram a renda dos milionários e pouco ou nada melhoraram a vida de mais dos mais de 70% de humanos, que continuam “pobres”. Nesse quadro, e com essas tendências, não se pode esperar “progresso” – no sentido de vidas “melhores” para a maioria – senão alterando objetivos e políticas.

O Brasil, com energia mais limpa que a média e grandes reservas ambientais, deveria e poderia se engajar de maneira mais efetiva na construção do novo e cada vez mais necessário mundo. Mais que “enriquecer”, no sentido de aumentar o PIB, consumir mais e gerar mais lixo, há que promover outros objetivos: renda mínima para todos, maior igualdade, prevenir doenças, melhor alimentação, mais tempo livre e oportunidades de interação social, ambientes urbanos mais confortáveis, para citar uns poucos.

Outro, essencial, é aprofundar cada vez mais a democracia, com crescente participação popular na definição dos usos dos recursos disponíveis.

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?