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O mercado e a política (por Roberto Brant)

Raramente o clima nos mercados financeiros esteve tão sombrio

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Dinheiro, Economia, Bolsa de Valores, Real, aumento, Baixa, money, gráficos – PIB
1 de 1 Dinheiro, Economia, Bolsa de Valores, Real, aumento, Baixa, money, gráficos – PIB - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Nos últimos três anos o Brasil tem recuperado as boas taxas de crescimento que já conheceu no passado. Como consequência disto as taxas de desemprego tem se mantido em níveis historicamente baixos e a pobreza tem diminuído. Como dizem os americanos: até agora tudo bem. Mas, para destoar desta conjuntura tão positiva, raramente o clima nos mercados financeiros esteve tão sombrio.

Ultimamente as expectativas do mercado financeiro em relação às variáveis mais relevantes da economia tem se mostrado muito erradas. Em artigo recente, o ex-diretor do Banco Central Luiz Eduardo de Assis nos lembrou que no início do ano o Boletim Focus, que reúne as previsões de 140 instituições financeiras, previa que o PIB cresceria em 2024 1,5%, quando na realidade, já sabemos que a economia crescerá mais que o dobro disto, 3,4%. O Boletim, já em uma chave mais otimista, previa que o dólar fecharia o ano em R$5,00, mas vai fechar acima de R$6,00 e a taxa Selic ao final do ano seria de 9%, quando sabemos que ela encerrará o ano em 12,25%. Os mercados também erram por otimismo.

Os humores dos mercados financeiros sempre influenciaram o clima na economia e condicionaram a ação dos governos. Governos que dependem de dívida pública para funcionar, como é o caso de todos os estados modernos, tem que ouvir não apenas a opinião dos cidadãos, mas também a opinião dos seus credores, aqueles que compram e vendem os seus títulos de dívida.

Os governos que sonham em se livrar das pressões do mercado precisam antes se livrar do financiamento privado da sua dívida, ou, pelo menos, manter a dívida em um patamar bastante moderado. Governos que gastam sistematicamente mais do que arrecadam de impostos acabam prestando contas mais aos mercados do que aos eleitores. Se se recusam a isto, em uma atitude voluntariosa e rebelde, acabam pagando o preço da desorganização da economia,  com altas nos juros e na inflação, o que termina em desestabilização política.

Governos populistas, além de sempre voluntariosos e pouco versados nas questões econômicas, têm uma forte tendência para exceder-se nos gastos públicos. Estes excessos transformam-se em déficits orçamentários que se convertem em aumento da dívida pública. A partir de um certo limite, os mercados começam a punir estes excessos, exigindo juros mais altos para continuar financiando a dívida. Neste momento os governos começam a protestar contra os mercados, atribuindo a eles a culpa por seus problemas. Se os governos recuam a aderem a alguma forma de contenção fiscal, poupando para impedir a dívida de sair do controle, estabelece-se um certo equilíbrio. Mas, se o governo teimar em cortejar seus eleitores e seguir gastando, não há como fugir do desastre. Ou os juros disparam ou os investidores fogem dos títulos do governo forçando sua monetização e a explosão da inflação. Não há caminho alternativo.

Como eu disse há pouco os mercados erram muito, mas, certos ou errados, eles tem um poder muito grande sobre a política econômica do governo e nem os governos autoritários conseguem impor completamente sua vontade em matéria financeira. No caso presente do Brasil a intuição dos mercados tem muita procedência, pois o atual surto de crescimento em grande parte tem sua origem no excesso de gasto público. Este excesso irrigou o consumo das famílias e deu alento à atividade econômica, mas tem custado um grande aumento da dívida pública em um ritmo que não é sustentável.

Em dezembro de 2022 a relação da dívida/PIB era de 71,8% e o Instituto Fiscal Independente, do Senado Federal estima que vai chegar a 80% no final de 2024, rumando para algo em torno de 85% no final de 2026, nas condições atuais, uma elevação de mais de 12 pontos percentuais no mandato do Presidente Lula. É uma trajetória que, não revertida, nos encaminhará para uma espécie de colapso.

Se o governo seguir ignorando a realidade econômica e continuar apenas de olho nas próximas eleições e na manutenção do poder, não haverá como errar nas previsões: estaremos perdidos.

 

Roberto Brant, ex-ministro da Previdência Social do governo Fernando Henrique Cardoso

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