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O maior espetáculo da terra (por Gustavo Krause)

Mais do que prática lúdica, o futebol é uma metáfora da vida

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Julian Finney/Getty Images
Nesta foto tirada de uma câmera remota atrás do gol) Bremer e Ederson do Brasil reagem depois que Vincent Aboubakar dos Camarões (não na foto) marcou o primeiro gol de sua equipe durante a Copa do Mundo da FIFA Partida do Grupo G Qatar 2022 entre Camarões e Brasil no Estádio Lusail em 02 de dezembro de 2022 na cidade de Lusail, Catar
1 de 1 Nesta foto tirada de uma câmera remota atrás do gol) Bremer e Ederson do Brasil reagem depois que Vincent Aboubakar dos Camarões (não na foto) marcou o primeiro gol de sua equipe durante a Copa do Mundo da FIFA Partida do Grupo G Qatar 2022 entre Camarões e Brasil no Estádio Lusail em 02 de dezembro de 2022 na cidade de Lusail, Catar - Foto: Julian Finney/Getty Images

Eduardo Galeano (1940-2015), no livro Futebol – Ao sol e à sombra, reproduz o diálogo de uma jornalista com a teóloga alemã Dorothee Solle: – Como a senhora explicaria a um menino o que é a felicidade; – Não explicaria – respondeu – daria uma bola para que jogasse.

Os terraplanistas que me perdoem, mas o futebol, o maior espetáculo da terra, corre atrás de uma esfera, a bola que encanta e emociona o mundo inteiro. Com mais de 200 países associados, a FIFA é a maior multinacional do globo e um negócio que emprega direta ou indiretamente mais de meio bilhão de trabalhadores.

O que explica esta gigantesca dimensão do futebol? Na origem, o incipiente processo de industrialização alicerçado nos valores da produtividade e da legalidade. Assim, o futebol penetrou na sociedade capitalista e a economia abraçou o futebol.

Outro fator relevante: regras limitadas (17), estáveis e universais estabeleceram o arcabouço institucional para o esporte que já nasceu global.

Mais dois fatores se somam: esporte de acesso democrático com margem de imprevisibilidade e surpresa suficiente para mobilizar massas e despertar fortes emoções. Mais do que prática lúdica, o futebol é uma metáfora da vida

O genial Nelson Rodrigues ensinou: “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola. A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”.

Embora tenha nascido branco, eurocêntrico, elitista, o futebol tornou-se mestiço, global, popular, criou identidades e personagens para além dos jogadores, entre elas, o torcedor, o juiz, o treinador e o “cartola”.

Com efeito, os personagens têm um complexo papel a ser exercido e, no seu conjunto, existe um permanente esforço para utilizar a diversão e o encantamento do jogo como instrumento de propaganda, em especial, nos regimes autoritários: Itália (1938), Brasil (1970), Argentina (1978) Rússia (2018). No Qatar, o desrespeito aos direitos fundamentais da pessoa revela ao mundo a face cruel do poder ilimitado e, em contrapartida, o ativismo político em favor das democracias.

Quanto ao futebol jogado, ficam algumas lições: a força, a velocidade, o sistema de marcação, a obediência tática demostram, de um lado, o nivelamento dos padrões coletivos e, de outro, confirmam a necessidade dos talentos individuais que fazem a diferença.

O contágio do ambiente planetário parece dar razão a Bill Shankly (ex-técnico do Liverpool): “Algumas pessoas pensam que o futebol é tão importante quanto vida e a morte. Elas estão muito enganadas. Eu asseguro que ele é muito mais sério do que isso”.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

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