metropoles.com

O Leviatã e o Capital (por Antônio Carlos de Medeiros)

O Estado e o capitalismo são duas máquinas que se retroalimentam, em sintonia, sinergia e em equilíbrio instável e dinâmico.

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Jason marz/Getty Images
Foto colorida de um cofrinho de porquinho em um fundo cor de rosa com moedas douradas caindo em cima - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de um cofrinho de porquinho em um fundo cor de rosa com moedas douradas caindo em cima - Metrópoles - Foto: Jason marz/Getty Images

Fenômenos das Ciências Sociais. Em pleno Século XXI, o “Leviatã” (1651) de Thomas Hobbes e o “Manifesto do Partido Comunista” (1848) de Marx e Engels, permanecem prescientes e persuasivos. A estas obras se somam os três volumes de “O Capital” de Marx (1867 e depois).

O Estado Moderno continua com a mesma concepção da máquina estatal hobbesiana. E a acumulação de capital contém a mesma concepção marxista da máquina de funcionamento do capitalismo.  Ambos, o Estado e o capitalismo, são duas máquinas que se retroalimentam, em sintonia, sinergia e em equilíbrio instável e dinâmico.

Esta é a conclusão de um recente livro seminal de David Runciman, da Universidade de Cambridge, Inglaterra: “Confrontando o Leviatã-Uma história do pensamento político moderno”. Nesta obra, Runciman navega em resenhas das vidas e obras de cientistas sociais proeminentes. De Hobbes a Fukuyama, passando por Mary Wollstonecraft; Benjamin Constant; Tocqueville; Marx e Engels; Gandhi; Weber; Hayek; Hannah Arendt; e Catharine MacKinnon.

Runciman mostra que o Leviatã é máquina e o capitalismo é máquina. São “autômatos gigantes” com vida própria. As duas forças – a política e a econômica – conformam o Estado moderno e o capitalismo moderno. São instrumentos que ninguém consegue controlar totalmente, mas ambas são essenciais, diz ele.

Hobbes concebeu o Estado como síntese dialética de povo e governo, em mútua dependência. Para superar o conflito do “homem lobo do homem”, evitando a “guerra de todos contra todos”. A produção da síntese vem do encontro das idéias do “soberano” e da “representação”. O soberano (um termo neutro para Hobbes) governa. O povo delega, via representação. Esta é a essência da concepção.

Mas a chave da concepção é a ideia de que ao soberano é concedido o monopólio legítimo do uso da força. O uso da força represa e contém a tendência natural ao conflito. A unidade da delegação ao representante confere legitimidade ao soberano.

Pronto. O artifício constrói uma máquina mecânica e interdependente (soberano e povo). Um acordo político. Sem a política é o caos. A máquina se movimenta para engendrar equilíbrio instável e dinâmico entre paz e terror. Uma máquina artificial reitera Runciman.

“Apesar da distância no tempo, continuamos a habitar o mundo político de Hobbes”. Ao soberano, o poder da força e a capacidade de proporcionar paz: “fiador da estabilidade e artífice do terror (…) conforto e medo”.

Continua sendo esta a tarefa dos poderes soberanos nos Estados modernos, conclui Runciman.

Passando para a exegese da máquina de funcionamento do capitalismo, com base no “Manifesto” e no “Capital”, ele vai ao cerne da concepção: “uma das características do capitalismo, um dos seus inevitáveis aspectos cíclicos, é que ele segue entrando em crise. Uma crise após outra é causada pelo fato de que o capitalismo tem mais poder do que as pessoas que o administram são capazes de controlar”.

Como corolário, segue ele, “o que acontece regularmente nas sociedades capitalistas é um ciclo vicioso”.  Ou seja, ciclos de superprodução e ciclos de subconsumo. Crises de oferta e crises de demanda.

Vem daí que “as soluções dependem do poder coercitivo do Estado, para manter a ordem interna”. Ou da busca de outros mercados, daí a internacionalização/globalização.

A ideia marxista que permaneceu recorrente é a ideia de crise e de sua relação com o funcionamento das engrenagens da máquina capitalista. “O capitalismo tem um poder mágico que não poder ser controlado pelas pessoas que o administram (…) – quando o truque da mágica dá errado, os capitalistas recorrem a novos mercados e/ou pedem ajuda ao Estado (…)“.

Até aqui, as crises recorrentes do capitalismo, com suas formas “naturais”, têm sido controladas ou superadas pelo Estado hobbesiano, veículo de força e emancipação, diz Runciman.

O Leviatã é máquina, o capitalismo é máquina. Seguimos num mundo hobbesiano, agora com o Estado coexistindo com as Big Techs, que produzem as máquinas pensantes.

Eis a condição moderna: o Estado nos faz vulneráveis ao poder da máquina. Ele nos serve e nós o servimos, provoca Runciman. Humano e mecânico.

Para onde vamos?

 

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?