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O governo não sabe o que fazer no ajuste fiscal (por Leonardo Barreto)

O mercado pede um ajuste entre R$ 30 e R$ 35 bilhões

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Imagem de uma moeda de 1 real. Acima dela, a palavra "PIB". Ao lado, uma seta apontando para cima. E, do outro lado, um ponto de interrogação - Metrópoles
1 de 1 Imagem de uma moeda de 1 real. Acima dela, a palavra "PIB". Ao lado, uma seta apontando para cima. E, do outro lado, um ponto de interrogação - Metrópoles - Foto: Getty Images

Em 2015, após uma dura disputa contra Aécio Neves, Dilma Rousseff montou seu segundo governo trazendo um ortodoxo para o ministério da Fazenda. Joaquim Levy apresentou um contundente pacote fiscal que pegou o PT completamente de surpresa, pois aquilo era o oposto do que havia sido prometido nas eleições.

A paralisia do PT contaminou os outros partidos da coalizão. Afinal, se a legenda do governo não abraçava a agenda impopular, seriam os outros a fazê-lo?

Oito anos se passaram e nos encontramos na mesma página da história. Um ajuste pelo lado das despesas é cobrado pelos agentes econômicos e o governo não sabe o que fazer.

Tanto não sabe que criou uma via crucis sem qualquer necessidade para Fernando Haddad. Pela terceira semana, ele enfrentará reuniões com Lula nas quais corre o risco de ser exposto novamente a críticas e cusparadas públicas dos outros ministros e atores do campo da esquerda.

Neste domingo (10), PT, Psol, PDT e PcdoB, além de organizações de movimentos sociais e sindicatos, lançaram uma carta pública contra a “chantagem pública” feita pelo “mercado financeiro e pela mídia” contra o governo. Nela, se colocam contra qualquer pacote estrutural de contenção de gastos, marcando previamente sua posição para indicar a Lula que haverá desgaste político caso um plano de cortes seja a opção escolhida.

Sem o apoio do grupo do governo, qual o incentivo dos outros partidos sustentarem sozinhos a aprovação dos cortes de gastos? São grandes as chances de qualquer anúncio do governo nascer politicamente morto, pelo menos até o dólar atingir patamar insustentável e a perspectiva do abismo mostrar-se mais próxima.

A responsabilidade dessa situação é integralmente do presidente Lula. Ele não assumiu a necessidade do freio de arrumação fiscal, apesar de dizerem nos bastidores que ele está convencido da sua necessidade. Ao jogar Haddad às feras, sob o pretexto de que era necessário criar um consenso dentro do governo antes de enviar as medidas, Lula obteve exatamente o contrário, com várias personalidades da Esplanada amaçando abandonar seus cargos caso tenha que fazer cortes.

Considerando que não há político mais experiente e matreiro do que Lula, o que está por trás dessa estratégia? Se ele acreditasse mesmo na necessidade de um ajuste fiscal, não seria mais razoável colocar seu peso político na frente e rebocar partidos e ministros rumo ao plano Haddad? Lula confia em Haddad? A abertura das discussões foi uma tentativa de dar chance para o surgimento de uma alternativa melhor?

O mercado pede um ajuste entre R$ 30 e R$ 35 bilhões, a esquerda trata as projeções negativas para a economia como blefe e Haddad está com as tripas de fora. Se Lula lhe der razão, vai ter que investir muito do seu capital político para reverter o cenário desfavorável. Se optar por um caminho mais light, vai explodir o que resta de confiança dos agentes econômicos no governo.

Ao decidir não decidir, Lula opta pelo status quo atual. Ao manter a discussão em aberto, Lula pode estar tentando ganhar tempo para sabe-se lá o que. O resultado objetivo é a manifesta dificuldade de fazer escolhas, um tipo de indecisão que sempre traz embutido em si o risco da sensação de paralisia, algo que já ocorreu no passado.

Leonardo Barreto é doutor em Ciência Política (UnB) e sócio da consultoria Think Policy.

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