metropoles.com

O futuro tende para o fascismo (por Ricardo Guedes)

O mundo tende para o fascismo

atualizado

Compartilhar notícia

Redes Sociais/Reprodução
Manifestantes de extrema direita fazem saudação fascista em comício em Roma
1 de 1 Manifestantes de extrema direita fazem saudação fascista em comício em Roma - Foto: Redes Sociais/Reprodução

Quem diria que no embate entre a democracia, o socialismo, e o fascismo, o fascismo iria vencer?

Adam Smith propôs a teoria do mercado, onde as ações individuais levam à prosperidade de todos. Montesquieu fala-nos sobre o “Espírito das Leis”, e Rousseau sugere o “Contrato Social” como a única forma de tirar o homem da barbárie.

Marx achava que o lucro nada mais é do que a mais-valia, a apropriação indébita do capitalista sobre o trabalhador. Haveria uma contradição entre a forma coletiva de se produzir e a apropriação individual do lucro, que resultaria na revolução do proletariado levando ao socialismo.

A democracia liberal e o socialismo se digladiaram ao longo da segunda metade do século XIX e início do século XX. Por um lado, avança a produção capitalista nas democracias eleitorais. Por outro lado, avança o socialismo, com a Comuna de Paris de 1871 e a Revolução Russa de 1917. Após a Primeira Guerra e o Tratado de Versailles, a Alemanha emite papel moeda em 1922 para o pagamento de sua dívida, gerando a hiperinflação, no destroço de sua classe média. A queda do poder de compra das classes médias gera o afloramento de ideologias de solapamento do poder, com a introdução do nazismo e do fascismo, tão bem estudados por Hannah Arendt, De Felice, e George Mosse.

O capitalismo e o socialismo se uniram para derrotar o nazismo e o fascismo na Segunda Guerra. Após a Segunda Guerra, dentro dos limites dos antepostos da Guerra Fria, os países prosperaram com soluções médias, Keynesianas e Social-Democratas. A partir de 1980, entretanto, aumenta a concentração do capital, com a diminuição da participação da classe média no PIB mundial.

Thomas Piketty, através de dados contábeis, mostrou que a remuneração do capital financeiro é maior do que a remuneração do capital produtivo nas sociedades capitalistas. O World Inequality Report mostra a compressão das classes médias nas sociedades. O capital é um “black hole”, que suga a todos. Suga a produção, suga aos homens, suga o meio ambiente. Hoje, 2.500 pessoas detêm 11,5% da riqueza mundial, com 90% detendo somente 24% de sua renda. A balbúrdia se instala.

Recentemente, tivemos a vitória dos trabalhistas sobre os conservadores na Inglaterra, e o crescimento da esquerda no Parlamento da França, conjuntamente com o crescimento da direita. Mas sem a entrega pelos governos de benefícios para a população, como a maior probabilidade, a tendência é do crescimento da direita radical.

Como os sistemas não funcionam, surge a base social do fascismo no destroço das classes médias. A pesquisa mundial “Populism in 2024” do IPSOS, citada por Paulo Paiva em seu artigo “Notícias e opiniões” de 7 de junho, mostra que 63% da população mundial deseja “um líder forte para recuperar o país dos ricos e poderosos”, e 49% “um líder forte disposto a quebrar as regras”.

O futuro é fascista. Pode ser que depois de algum tempo, em futuro ainda não próximo, pessoas, grupos e movimentos sociais contra o fascismo venham a surgir, por vez que o fascismo resulta no pior dos cenários de violência contra os homens e na ignomínia da opressão.  Mas, infelizmente, teremos que passar por isto.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?