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O futuro do planeta em jogo (por Marcos Magalhães)

Trump agora tropeça no enigma Kamala Harris

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Imagem colorida do debate entre o presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida do debate entre o presidente Joe Biden e o ex-presidente Donald Trump - Metrópoles - Foto: Justin Sullivan/Getty Images

Há poucos anos, quando chegavam aos trópicos notícias sobre eleições americanas, a pergunta mais comum era: como o resultado afetará nossas exportações? As apostas, agora, são mais altas. A escolha influi mais do que nunca no futuro do próprio planeta.

A desistência de Joe Biden, no domingo, começa a alterar cálculos políticos. Antes quase certa, a vitória do republicano Donald Trump agora tropeça no enigma Kamala Harris, a provável nova candidata do Partido Democrata.

As primeiras previsões indicam um quase empate técnico entre as duas maiores forças políticas do país. Os exportadores, porém, não precisam se perder em perguntas. Quem quer que vença manterá o nacionalismo econômico que ganhou o mundo após a Covid.

O governo Biden optou por uma nova política industrial. Destinou US$ 400 bilhões a energias limpas e veículos elétricos, por meio da Lei de Redução da Inflação.

Ofereceu ainda US$ 50 bilhões para atrair a solo americano investimentos para fabricação de semicondutores. E destinou US$ 170 bilhões à pesquisa sobre tecnologias do futuro.

O objetivo sempre foi o de ressuscitar a indústria americana, especialmente diante da enorme concorrência dos produtos chineses.

Trump, por sua vez, pretende relançar as bases de seu plano Make America Great Again, conhecido pela sigla Maga. Como? Especialmente por meio da imposição de altas tarifas às importações e de redução de impostos dentro do próprio país.

Portanto, não se esperem grandes concessões a exportadores estrangeiros. As diferenças entre as duas principais propostas em debate, sob o ponto de vista do resto do mundo, estão principalmente em duas outras áreas: democracia e meio ambiente.

Para lembrar a importância da primeira delas, basta lembrar as pressões de Trump sobre governadores para que “encontrassem” votos para ele em suas urnas, capazes de alterar em favor do então presidente a quantidade de votos no Colégio Eleitoral.

Também não é difícil recordar a invasão do Capitólio promovida por fãs do ex-presidente no dia 6 de janeiro de 2021, com o objetivo de evitar a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden dois meses antes.

Portanto, quem se preocupa com a manutenção da democracia nos Estados Unidos precisa ficar atento aos próximos passos de Trump e de seus seguidores mais entusiasmados.

Para quem não acha o tema tão importante, resta a questão do meio ambiente. Esta, sim, afeta a todos. Desde os mais ricos habitantes da Europa e da América do Norte às populações mais vulneráveis ao aquecimento do planeta, no chamado Sul Global.

Os Estados Unidos são o segundo maior emissor de gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global. Mas têm o maior nível mundial de emissões por habitante. O dobro das emissões chinesas per capita, ou oito vezes as emissões indianas, segundo dados do World Resources Institute.

E como estará o mundo ao final de 2028, quando terminar o mandato da pessoa escolhida dentro de três meses para ocupar a Casa Branca pelos próximos quatro anos?

Na busca de possíveis respostas a essa pergunta, seria aconselhável prestar atenção às declarações sobre o tema de Trump e da própria Kamala, que, apesar de ainda não confirmada, tende a ser a candidata de seu partido às eleições presidenciais.

Em seu discurso de aceitação durante a convenção do Partido Republicano, Trump acenou com a promessa de desmantelar as medidas do atual presidente destinadas a limpar a matriz energética do país.

O ex-presidente acusou o atual governo americano de haver gastado “trilhões de dólares” em ações ligadas ao que chamou de Green New Scam, alguma coisa como a Nova Fraude Verde, em referência irônica ao Green New Deal defendido pelos democratas.

Ele prometeu ainda revogar o que vê como “imposição dos carros elétricos”. E fez novas juras de amor ao petróleo. “Nós vamos perfurar, vamos perfurar”, prometeu o ex-presidente, alegando que a inflação se deve à alta de preços de energia.

“Nos temos mais ouro líquido sob os nossos pés do que qualquer outro país”, afirmou Trump na convenção. “Nós seremos dominantes na energia e abastecer não apenas nós mesmos, mas o resto do mundo”, prometeu.

Kamala Harris ainda não teve os holofotes de uma convenção para chamar de sua. Mas tem emitido sinais, ao longo dos últimos anos, de que buscaria uma trilha bem diferente para seu país – com consequências plausíveis para todo o planeta.

Como ressaltou nesta segunda-feira o jornal The New York Times, ela fez do meio ambiente uma “preocupação central”, desde os tempos em que moveu ações contra poluidores como procuradora-geral da Califórnia, até quando apoiou o Green New Deal no Senado.

De fato, foi dela o voto de desempate em favor da Lei de Redução da Inflação, proposta pelo governo Biden, que permitiu o maior investimento na questão climática da história dos Estados Unidos.

Logo após a desistência de Biden, no domingo, o jornal perguntou a Gina McCarthy, que foi sua assessora para temas climáticos, se Kamala Harris perseguiria os mesmos ideais do atual presidente na questão ambiental.

“Ela vai lutar a cada dia para que todos os americanos tenham acesso a ar limpo, água limpa e a um ambiente saudável”, respondeu McCarthy. “A vice-presidente Harris vai chutar o traseiro de Trump”.

As palavras pouco diplomáticas da assessora indicam o clima que deve predominar ao longo da campanha eleitoral, que ainda nem bem começou. Seja qual for a linguagem, porém, esse clima será de confronto – especialmente em temas como o meio ambiente.

Em novembro de 2025, um ano após as eleições americanas, a cidade de Belém do Pará receberá os delegados para a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a COP 30.

O Brasil, como anfitrião, vai tentar fazer o possível para trazer o mundo de volta a um caminho que permita conter o aumento da temperatura global em 2º em relação à média pré-industrial, ou mesmo 1,5º, como indica o Acordo de Paris.

Quando presidente, Trump retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Manterá essa posição se for mais uma vez eleito? Por sua vez, com seu histórico ambiental, Kamala Harris poderia liderar um esforço global para manter sob controle a mudança do clima?

As perguntas mostram apenas uma face da importância das eleições americanas para o resto do mundo.

 

Marcos Magalhães. Jornalista especializado em temas globais, com mestrado em Relações Internacionais pela Universidade de Southampton (Inglaterra), apresentou na TV Senado o programa Cidadania Mundo. Iniciou a carreira em 1982, como repórter da revista Veja para a região amazônica. Em Brasília, a partir de 1985, trabalhou nas sucursais de Jornal do Brasil, IstoÉ, Gazeta Mercantil, Manchete e Estado de S. Paulo, antes de ingressar na Comunicação Social do Senado, onde permaneceu até o fim de 2018.

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