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O fim do desenvolvimento (por Eduardo Fernandez Silva)

A ideia corrente de “desenvolvimento” é irrealizável porque a humanidade extrai e descarta materiais muito além da capacidade do planeta

atualizado

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André Borges/Especial para o Metrópoles
Especial Lixão 1 ano e meio depois do fechamento
1 de 1 Especial Lixão 1 ano e meio depois do fechamento - Foto: André Borges/Especial para o Metrópoles

Título dúbio, este! O fim do “desenvolvimento” é, como um mal analista bom de marketing decretou e errou, o fim da história? Ou se refere à finalidade do processo? Ou, ainda, ao fim dessa ideia na economia e na política?

Não pode ser o fim da história, pois até que desapareçam, os humanos continuaremos a nos transformar e a alterar o ambiente em que vivemos. Então, mineiramente, que “trem” é esse?

Essa a pergunta necessária, sempre que se ouvir qualquer “receita” de “desenvolvimento”. Tantos são seus significados que a palavra se tornou um “trem”: significa quase tudo, algo mais e, pois, nada!

A vaga ideia geral é que países com grande parte da população pobre progressivamente reproduzam o estilo de vida daqueles onde há relativamente poucos pobres. Trata-se, por ser não realizável, de uma utopia enganadora.

Utopias são necessárias para indicar o rumo “desejável”. A obscura ideia corrente de “desenvolvimento” é irrealizável porque já hoje a humanidade extrai, transforma, usa e descarta materiais muito além da capacidade de suporte do planeta. Por isso é enganadora. Insistir nela é aprofundar a degradação da natureza, dos humanos e de outros seres vivos. Há, pois, que mudar o rumo, imaginar uma utopia realizável e agir para torná-la real!

Para se tornar realizável uma utopia precisa ser clara e ter prazo certo para se tornar realidade. Ou seja, deixar de ser sonho para ser meta; deixar de ser ideal para ser possível. Como diz o ditado: o ótimo é inimigo do bom!

Do fundo da série C, o time não pode “sonhar” ser campeão da série A, mas pode trabalhar para subir à B. Para  o Brasil, e muitos outros países, melhor reconhecer que longas marchas se fazem a partir dos primeiros passos e são condicionadas pelo terreno: contornar desfiladeiros costuma ser mais prudente e fácil que escalá-los.

Com esse reconhecimento, definir avanços que melhorem a qualidade de vida da população, em poucos anos. São tantos os aspectos a melhorar! Faltam-nos, porém, objetivos claros a alcançar. Num horizonte de quatro anos, quais metas são desejáveis e possíveis na educação, na saúde, na segurança, na higiene coletiva e noutros campos?

Deve ser tarefa dos candidatos a qualquer cargo propor tais avanços e sugerir o caminho para torná-los realidade. Aqui no Brasil, porém, quem pleiteia cargo parece crer que quanto mais vago for, mais chances terá de sucesso eleitoral! No rumo em que temos andado, a evidência sugere que quanto mais sucesso eleitoral menos avanços na qualidade de vida da população! E, dadas as restrições físicas do planeta e as implicações destas sobre os estilos de vida possíveis de serem construídos, quais reformulações propõem para a ideia de “desenvolvimento”?

Há mais de meio século Keynes sugeriu, como realidade possível no início do século XXI, uma jornada de trabalho semanal de quinze horas. Algum candidato tem ideia melhor, ou propõe um caminho para concretizar tal utopia, hoje possível e, para muitos, desejável?

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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