O fascismo no Brasil (por Ricardo Guedes)
Bolsonaro perde as eleições, tenta o Golpe de Estado. O único antídoto para o fascismo é o desenvolvimento econômico e dura legislação
atualizado
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Um Professor meu da Universidade de Chicago, Brasilianista, uma vez me disse como caricatura ao se referir ao peso e tamanho do Estado em nosso país, que “A revolução capitalista no Brasil é mais difícil do que a socialista. Não que a socialista seja possível”. Rimos bastante, mas verdadeiro.
Nunca me preocupei com a possibilidade de socialismo no Brasil, por saber com convicção que deste mal nunca padeceremos. Com relação à revolução capitalista, também não. Todas as tentativas de se instalar no Brasil uma economia de mercado, inclusive recentemente como anunciado na campanha de Bolsonaro em 2018, fracassaram. O Brasil, há dois séculos, é um Estado Patrimonialista, onde o Estado se apodera das relações econômicas e sociais, conforme descrito por Max Weber, com um mercado econômico concedido e auxiliar, gerador dos lucros dos quais o próprio Estado se apropria.
Mas me preocupo muito com o fascismo no Brasil, por ver ele possível.
O fascismo, conforme descrito nos trabalhos de Hannah Arendt, De Felice e George Mosse, tem por origem as classes médias iliteratas sem perspectivas sociais e ansiosas em ter poder na sociedade, despertadas que são por um Líder, em alemão, Das Fuhrer, demagogos oportunistas sem ideologia, aliados a parcela de empresários, certamente não a sua maioria, na busca da reserva de mercado pela força. Este quadro de possibilidades se forma devido a dois fatores. Primeiro, quando o país passa por forte recessão econômica, como na Alemanha com a hiperinflação em 1922 e no Brasil com a queda do PIB de US$ 2,6 trilhões em 2011 para US$ 1,8 trilhões em 2015.
Segundo, na decepção para com os partidos tradicionais, como na Alemanha na República de Weimar e no Brasil com o PT e o PSDB e imagem dos políticos devido à Lava Jato. Em todos os países onde o fascismo se instalou, o Líder, ou Das Fuhrer, usa da mentira como arma social. Na Alemanha, o inimigo externo era o comunismo e a Rússia, e o inimigo interno os Judeus que tanto ajudaram a Alemanha a se desenvolver. No Brasil de Bolsonaro, o inimigo externo eram a Venezuela e a China, na esdrúxula tentativa no início de seu governo da invasão da Venezuela sob o manto da “ajuda humanitária”, e o inimigo interno o comunismo, este ente abstrato que paira na mente dos incautos da mais impossível implantação. “Deutschland Uber Alles”, “o Brasil acima de tudo”. Não é por nada que a utilização dos símbolos Nazistas tanto cresceu no Brasil. O Observatório Judaico dos Direitos Humanos apontou recentemente que o número de ataques neonazistas de 2019 a 2020 quase que dobrou no país, de 12 para 21, 49 em 2021, 32 somente no primeiro semestre de 2022.
Bolsonaro perde as eleições, tenta o Golpe de Estado, e continua na expectativa. O único antídoto para o fascismo é o desenvolvimento econômico e dura legislação, para satisfazer e controlar a horda das violências, como ocorreu na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus