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O Facebook é o maior cemitério do mundo (Por Ana Maria Henriques)

“Quando a vida biológica de um indivíduo termina, a vida digital permanece como se nada tivesse acontecido”

atualizado

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Foto de um celular com o ícone do Facebook
1 de 1 Foto de um celular com o ícone do Facebook - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Já aconteceu a muitos de nós ao abrirmos o Facebook: de repente, durante um scroll insuspeito, surge a fotografia de alguém que já morreu, partilhada por amigos naquela rede social. Muitas vezes a fotografia está acompanhada de um texto que a pessoa que já morreu escreveu e partilhou, em vida. “O destino de cada um de nós está marcado: tornar-nos-emos fantasmas digitais, permanentemente à disposição da posteridade e, por conseguinte, involuntariamente capazes de viver para sempre, sem o nosso prévio consentimento, como testemunhas incómodas da passagem da morte e da impossibilidade contemporânea de desaparecer e de esquecer.” Assim escreve Davide Sisto logo nas primeiras linhas de Fantasmas Digitais – Imortalidade, Memória e Luto na Era das Redes Sociais, agora editado em Portugal pela Zigurate, cinco anos depois de ter sido lançado no mercado livreiro italiano.

Todas as fotografias e todos os vídeos que partilhamos em redes sociais e blogues, os textos que escrevemos, os comentários que deixamos nas partilhas dos outros, enfim, todas as nossas representações que habitam o mundo online tornam-se “objetos digitais que podem ser multiplicados indefinidamente e podem ser pertença de várias pessoas ao mesmo tempo”. Compõem a nossa “casa digital” – e é “realmente difícil arrumar os objetos digitais dos mortos”, sublinha Davide Sisto, em entrevista por e-mail.

O filósofo italiano natural de Turim é especialista em tanatecnologia – “o estudo da morte numa perspectiva filosófica e em relação com a medicina, a cultura digital e o pós-humano”. É uma disciplina “muito importante no mundo de hoje”, avalia. Sisto resume a sociedade em que vivemos: “Já não existe uma diferença substancial entre online offline (…) E já não existe uma coincidência entre a localização em que estamos fisicamente e a nossa presença”. Atingimos, considera, “um tipo de ubiquidade graças às tecnologias digitais”.

Esta ubiquidade tem, também, uma manifestação na morte. “Quando a vida biológica de um indivíduo termina, a vida digital permanece como se nada tivesse acontecido”, continua. Assim nasce a figura do fantasma digital, na forma de um “diário pessoal interactivo que permanece no mundo online”. Fugindo ao controlo de quem já morreu, os fantasmas digitais “revelam tudo o que fica online”.

 

Trecho de entrevista publicada no PÚBLICO – https://www.publico.pt/2023/06/08/culturaipsilon/noticia/facebook-maior-cemiterio-mundo-2049337

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