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O estranho espetáculo dos bolsonaristas (por Ricardo Guedes)

Qual legado Bolsonaro deixou?

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apoiador do presidente Jair Bolsonaro presta continência para o QG do exército durante ato no Qg do exército - Metrópoles
1 de 1 apoiador do presidente Jair Bolsonaro presta continência para o QG do exército durante ato no Qg do exército - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Um amigo meu, dono de um condomínio horizontal, disse que não dorme desde as eleições porque tem certeza de que o condomínio dele será invadido e seus lotes serão tomados para o assentamento dos menos favorecidos. Transtornado, ele acredita piamente nisto. No Paraná, um grupo entoa o hino nacional para um pneu, de caminhão. No Pernambuco, um manifestante se agarra na frente de um caminhão para tentar impedir o seu percurso. Em Santa Catarina, infantes estendem os braços em uma alusão nazista na esperança sabe-se lá do quê. No Rio Grande do Sul, manifestantes apontam seus celulares para os céus com mensagens de SOS, no anseio de que luzes não identificadas em Porto Alegre sejam Ovnis que venham salvar o país sabe-se lá do quê. Na frente dos quarteis, grupos se aglomeram pedindo intervenção militar, inócua atitude, posto ser o Exército, em sua maioria, legalista. Alguns assassinatos de cunho político se vão, vidas que se vão pelo nada do amanhã. Que país é esse? Este é o Brasil?

Em Pesquisas Mundiais da Sensus, o Brasil é avaliado positivamente por 74% como um país bom para se viver, alegre e hospitaleiro para 89% da população mundial. O que aconteceu por aqui?

Qual legado Bolsonaro deixou? Na economia, o PIB caiu de USD 1,9 trilhões para US$ 1,6 trilhões. Somente 25% acham que seu governo estava no rumo. Mais de 60% da população desaprova a política que foi conduzida na saúde, educação, meio ambiente, relações internacionais. Não muito deixou.

Bolsonaro tem por base as classes medias iliteratas, base social do fascismo, tão bem descrito nos trabalhos de Hannah Arendt. Este grupo, antes sem voz na sociedade, se soltou das amarras tradicionais para a violência, pautados que são pelo mal exemplo de seu líder. Acham que podem fazer o que quiserem, na ofensa e agressão contínua a cidadãos e personalidades nas ruas, restaurantes, hotéis, estádios, aeroportos. Enquanto isto, seus líderes urgem para compor com o novo governo, na tentativa do resguardo de suas pessoas físicas e quem sabe a manutenção de seus privilégios.

Ainda, mais bizarro que possa parecer, parte dos bolsonaristas torcem hoje contra a seleção brasileira, sabe-se lá por quê. Como cita Roberto Damatta em” O que faz do brasil, Brasil!”, o primeiro Brasil com b minúsculo da questão social, e o segundo com B maiúsculo do nosso ufanismo, no Brasil a música, o futebol e o carnaval são símbolos de nossa cultura, que nos igualam e nos unem em uma amalgama social. Torcer contra a seleção brasileira é agredir os nossos valores. Na Mitologia Grega, não se deve abrir a Caixa de Pandora, onde estão contidos todos os males que afligem a humanidade. Bolsonaro deteriorou a economia e atacou a cultura ao mesmo tempo, o que foi fatal para os seus propósitos políticos. Bolsonaro liberta a violência e o ódio, verdadeiro legado de sua existência.

Tempos estranhos.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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