O enigma por trás da candidatura de Queiroz(por Bernardo Mello Franco)
O amigo do presidente tem chances de se eleger, mas pode virar uma companhia tóxica
atualizado
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Fabrício Queiroz está de volta. Depois de curtir a virada de ano, o ex-PM ressurgiu com planos ambiciosos. Quer trocar a sombra da família Bolsonaro pelo sonho do gabinete próprio.
O homem da rachadinha é pré-candidato a deputado. No domingo, ele deu o pontapé inicial da campanha. Divulgou um vídeo para ostentar intimidade com a família presidencial.
O filmete empilha clichês da iconografia bolsonarista. Queiroz visita um estande de tiro, veste roupa camuflada e empunha um fuzil. A militância verde-amarela marca presença com camisetas da seleção e bandeirinhas de plástico.
Numa cena descontraída, o ex-PM e o senador Flávio Bolsonaro fazem sinal de positivo para a câmera. Em outro momento de ternura, Queiroz e Jair aparecem de sunga na praia. Os velhos amigos encolhem a barriga e exibem o bíceps, num gesto para afirmar masculinidade.
Na sequência, o sargento baixa a guarda e se derrama para o capitão: “Um exemplo de respeito, amizade, integridade e conduta. Esse é meu irmão, por isso estamos juntos nessa luta”.
O sonho de Queiroz não parece impossível. A temporada na cadeia transformou o ex-PM numa figura popular entre os bolsonaristas. No último 7 de Setembro, ele foi paparicado e posou para selfies em Copacabana. Três meses depois, desfilou com deputados do PSL num ato político em Niterói.
O amigo do presidente tem chances de se eleger, mas pode virar uma companhia tóxica. Fora da bolha bolsonarista, ele só é conhecido pelo título de operador da rachadinha.
Sua candidatura deve reavivar o escândalo que levou o Ministério Público a denunciar o Zero Um por organização criminosa, peculato e lavagem de dinheiro. Além de ressuscitar questões que o clã gostaria de esquecer, como os depósitos de R$ 89 mil na conta da primeira-dama.
A reaparição de Queiroz ainda contém um enigma. Há pouco tempo, ele se queixava de abandono e insinuava que poderia abrir o bico. “Minha metralhadora está cheia de balas. kkkk”, escreveu, em julho passado. Seis meses depois, o ex-PM trocou as ameaças veladas por juras de amizade. Bolsonaro deve saber o motivo da conversão.