O desapreço de Lula pela democracia
Lula inventa as mais estapafúrdias histórias para justificar a corrupção do PT
atualizado
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Editorial de O Estado de S. Paulo (16/7/2021)
Em entrevista ao jornal chinês Guancha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou que não tem nenhum pudor em inventar as mais estapafúrdias histórias para justificar os escândalos de corrupção envolvendo o PT e que continua submetendo tudo a seus interesses políticos. Com esse peculiar modo de agir, não se constrange em manifestar apoio a regime antidemocrático, se assim lhe for conveniente. Continua o Lula de sempre.
Para o ex-presidente petista, só os ditadores de direita merecem reprovação. “A direita, que ocupa um espaço muito grande, é radical há muito tempo. O comportamento de Trump nos Estados Unidos e o comportamento do presidente Bolsonaro no Brasil são mais ou menos como o surgimento do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha. Esses ditadores não querem discutir com pessoas que têm ideias diferentes das suas e não acreditam em seu próprio poder”, disse.
Lula, no entanto, não fez nenhuma reprovação do cerceamento das liberdades na China. A respeito do regime chinês, suas palavras foram de elogio e admiração. “A China é capaz de lutar contra o coronavírus tão rapidamente porque tem um partido político forte e um governo forte, porque o governo tem controle e poder de comando”, disse.
Como se vê, Lula é capaz de ignorar a falta de eleições livres num país. Sua defesa da democracia depende das circunstâncias. O líder petista elogiou ao jornal chinês o retorno da esquerda ao poder na América Latina. Mas, ao tratar da China, esqueceu-se da importância da alternância do poder.
Com Lula, tudo ganha um estranho relativismo. Ele denuncia o radicalismo de direita, mas ignora o radicalismo de seu próprio partido. Por exemplo, o PT votou contra a Constituição de 1988, justamente o marco jurídico que veio restaurar o Estado Democrático de Direito no País. “Votamos contra porque queríamos algo mais radical”, disse o líder petista nos 25 anos da Carta de 1988.
Lula não é um bom defensor da democracia e da moderação, como também não é um bom narrador dos fatos. Sua versão sobre os escândalos de corrupção envolvendo o PT é simplesmente grotesca, sem nenhuma correspondência com a realidade.
“Provamos que a promotoria (da Lava Jato) estava servindo ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos naquela época, e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pretendia minar nossas leis para regulamentar a Petrobrás”, disse Lula na entrevista ao jornal chinês.
Em vez de reconhecer a conivência das administrações petistas com a corrupção, Lula preferiu, na entrevista ao Guancha, recorrer a teorias da conspiração. “A única explicação que consigo encontrar para isso (a suposta interferência dos Estados Unidos na Lava Jato) é porque o Brasil estava se tornando um importante player internacional”, disse Lula. Eis o nível de comprometimento do líder petista com os fatos.
Segundo Lula, o PT não fez nada de errado. “Essa é a explicação que encontrei para o impeachment da presidente Dilma Rousseff, minha prisão e as várias mentiras fabricadas contra o PT. A única explicação que posso encontrar é esta. Os Estados Unidos estão sempre intervindo na política latino-americana, são os responsáveis pelos golpes no Brasil, Chile, Uruguai e Argentina”, disse Lula ao Guancha.
Lula desrespeita a memória da população quando trata os escândalos de corrupção dos governos petistas como “as várias mentiras fabricadas contra o PT”. Em vez de pedir desculpas pela gestão da coisa pública tão indiferente à lei e à ética, o líder petista coloca-se como vítima de perseguição política, promovida pelos Estados Unidos.
Além disso, ao distorcer os fatos nesse patamar, Lula manifesta seu desapreço pelo regime democrático, regime este que pressupõe responsabilidade dos governantes. O líder petista não apenas distorce a história quando diz que o impeachment de Dilma Rousseff foi resultado de uma conspiração norte-americana. Lula tenta excluir sua responsabilidade pelo que o PT fez com o País, confirmando que continua sem merecer, sob nenhuma hipótese, a confiança do eleitor.