O Chat GPT e os desafios às universidades (Por Pedro M. Teixeira)
A universidade terá de se preocupar mais em despertar a capacidade de questionar, de desenvolver visões de futuro, ou seja, de sonhar
atualizado
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Não, este não é mais um artigo de opinião escrito em co-autoria com o Chat GPT! A recente submissão de alguns artigos científicos identificando o ChatGPT como co-autor noticiada pela Nature surpreendeu muitas pessoas. O debate está instalado e vários notáveis arriscam prever que esta tecnologia representará o fim da atividade de muitas universidades.
Desde a invenção da imprensa escrita, em 1430, por Gutenberg, que a tarefa acadêmica de identificar em textos conteúdo que permita explorar, aprofundar, analisar e, posteriormente, integrar num novo texto a resposta a uma questão ou inspirar um intuito poético ou filosófico passou a ser facilitada. Desde então, as tecnologias que tornaram a atividade acadêmica mais célere são variadas: dos fotocopiadoras ao digital, dos motores de busca na Internet à Wikipedia. E, mais recentemente, o ChatGPT (tornado público em novembro de 2022) que, em dois ou três segundos, não apenas consegue pesquisar o imenso conteúdo digital que tem à sua disposição, identificando significado pertinente para a tarefa acadêmica solicitada, como consegue escrever texto coerente novo e original a partir da sua tremenda capacidade de processamento algorítmico. É espantoso e assusta algumas pessoas, mas encanta outras.
A tarefa acadêmica inicia-se com um intuito de exploração inquisitiva, seja ético, estético, científico ou tecnológico. E essa capacidade de formular uma questão, ou de iniciar uma tarefa acadêmica, com intencionalidade criativa advém da consciência humana e não é necessariamente algorítmica, ainda que as respostas o possam ser. Não se trata apenas de raciocínio indutivo-dedutivo, trata-se de intencionalidade consciente. Realmente é o sonho que comanda a vida. E sempre que se sonha o mundo pula e avança. E é nesse sonho que encontramos a intencionalidade consciente que nos leva a questionar, a inquirir e a buscar as respostas. É esse sonho, a visão de onde queremos ir que advém da consciência humana, que inicia a tarefa acadêmica. Ora, muitos dos passos que temos de dar para lá chegar é que são algorítmicos. Dito de outra forma, o ChatGPT responde às perguntas, mas não as faz.
Os frutos que o avanço obtido pelas famosas STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) fornece agora serão colhidos e saboreados pela filosofia. As universidades que apenas leccionam e avaliam com base na memória das respostas percebidas como certas serão certamente desafiadas e, inevitavelmente, transformadas. A universidade terá de se preocupar mais em despertar a capacidade de questionar, de desenvolver visões de futuro, ou seja, de sonhar e de ter iniciativa inquisitiva. Demos as boas-vindas ao dataísmo pois ele promete ajudar a construir as respostas!
A universidade tornar-se-á mais robusta e fundamental para o progresso e o sucesso humano. Com estas ferramentas passará a estar na linha da frente, se é que ainda não estava, da descoberta e da inovação para a resolução dos problemas e das ameaças que a humanidade enfrenta. Sejamos capazes de ajudar a formar estudantes com sentido crítico, cientes e comprometidos com os problemas da humanidade para que sejam capazes de ousar questionar e de sonhar e o mundo avançará. Os algoritmos aceleram certamente a construção desse avanço e ainda bem, porque já não temos muito tempo para solucionar alguns problemas. Ocupemo-nos, pois, agora mais com a direção do que com a velocidade. A direção será sempre mais importante do que a velocidade e isso é algo que a universidade não pode esquecer.
(Transcrito do PÚBLICO)