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O Brasil tá lascado (por Tânia Fusco)

Lamento muito nosso destino de ter de passar pelos Bolsonaros no comando do país

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Ativistas realizam ato pelos 300 mil mortos no Brasil pela covid-19 na Praça dos Três Poderes. Fotos Rafaela Felicciano/Metrópoles
1 de 1 Ativistas realizam ato pelos 300 mil mortos no Brasil pela covid-19 na Praça dos Três Poderes. Fotos Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: null

CPF cancelado. À parte a crueldade nela contida, a expressão é deboche impar. Coisa de cafajeste, linguagem de miliciano, despudoramente usada e repetida pelo presidente da república – assim mesmo com letras minúsculas. Maior função pública do país está apequenada desde que a faixa de PR foi vestida por um sujeito capaz de imitar, rindo, em público, a falta de ar dos acometidos de Covid.

Capaz de misturar, como piada, as mortes da pandemia com o fim de um assassino psicopata.

“Ele não morreu de covid, não?” Ironizou o PR sobre o bandido Lázaro Barbosa, cuja morte, antes, havia anunciado como “CPF cancelado”. Mixando um e outros, de novo, desprezou, desqualificou, desrespeitou mortes e mortos do covid.

O Brasil tá moralmente lascado.

Não merecemos nem uma palavra de lamento do PR em questão no dia em que o país registrou 500 mil mortos da pandemia. No sentir dele, apenas meio milhão de CPFs cancelados. Nenhum respeito pelos que se foram, pelos que ficaram órfãos, viúvos, pelos desolados.

Não importa se as duas palavrinhas foram usadas, ontem, para “celebrar” a morte de Lázaro, que feria, estuprava e matava sem dó e há 20 dias assombrava o entorno do DF, dando olé nas polícias que tentavam capturá-lo. Um Presidente não se manifesta com zombarias.

Nenhuma surpresa com a exibição do bandido morto, dito vivo, levado a hospital. Qualquer brasileiro conhece o modus operandi das polícias brasileiras São violentas. Com raras exceções. Se podem matar com um ou dois tiros, usam 100. Matar é mais fácil que prender. Reagindo ou não, Lazaro seria CPF cancelado com muitos tiros – 125 disparados, 38 “pegaram”, dizem as mídias.

Minha fraqueza desumana não lamenta a morte de Lázaro. Não consigo me condoer com destino de estupradores. Que as forças divinas me perdoem.

Mas a comemoração da morte provocou mal estar. Chocante. Mesmo em tempos de choques diários e assimilados como se nada demais fossem.

Lamento muito nosso destino de ter de passar pelos Bolsonaros no comando do país. Com toda a violência e maldade que estimulam, as cafajestices que praticam. A ameaça que representam.

Não foi com meu voto. Nem com o de outros milhares de brasileiros.

Infelizmente, votando ou não, somos todos vitimas da tragédia da eleição que, pretendendo, supondo ou querendo livrar-se dos políticos, pinçou entre eles o mais desqualificado possível. E trouxe à tona esse Brasil horroroso.

Retrocedemos. Em dois anos e meio, parece, voltamos 500 anos.

Encontramos um Brasil medieval, dos preconceitos, da intolerância, da desumanidade, da ignorância explícita. Pior ainda. Em nome de Deus. E da sagrada (?) família.

Devolvemos o nome de Deus à barbárie dos tempos da inquisição com a violência das torturas, das mortes em fogueiras e óleo quente perpetradas em Seu nome.

Retrocedemos.

Na história do bandido Lázaro, parece, vem junto a eterna História do Brasil – da grilagem, do desmando de grandes e pequenos coronéis, dos jagunços, de mortes e terror por encomenda.

Na esteira da CPI da Covid, parece, vem vindo outra banda da História brasileira – o do toma lá da cá que tira vantagens até das tragédias. E que tem nome: corrupção. Covaxin e Convidecia vêm com histórias de 1001 e noites e muitíssimos dólares.

Crise hídrica e apagão são outros dos filmes já vistos por aqui.

Com que piada, gracinha ou deboche o PR vai encarar isso daí? Taoquei?

 

Tânia Fusco é jornalista

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