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O Brasil no centro da crise e à margem do mundo (por Felipe Sampaio)

Somos um dos maiores produtores de alimentos do planeta e aqui se encontram a maior parte da floresta amazônica

atualizado

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Sebastião Salgado
Exposição no Sesc Pompeia traz fotos que Sebastião Salgado fez na Amazônia
1 de 1 Exposição no Sesc Pompeia traz fotos que Sebastião Salgado fez na Amazônia - Foto: Sebastião Salgado

O Brasil vive sua melhor oportunidade no cenário mundial, justamente quando está mais desnorteado em sua política de relações exteriores e meio ambiente. Que saudade do Itamaraty.

O presidente brasileiro desperdiça um encontro com embaixadores de 40 países fazendo fofocas domésticas, no momento em que poderia ocupar a liderança nas negociações mundiais sobre segurança alimentar e meio ambiente.

O mundo vive uma crise multidimensional como poucas vezes até hoje. As molduras são a mudança climática e a incerteza financeira, turbinadas por mais uma guerra na Europa com desfecho imprevisível.

Nem mesmo na II Guerra Mundial o Brasil teve peso relevante na balança das nações, considerando sua diminuta participação comparada aos números do conflito.

Acontece que a nova guerra europeia atingiu a oferta de grãos da Ucrânia e o mercado de fertilizantes russos, abalando a (frágil) distribuição universal de alimentos, quando a produção mundial já enfrentava a alteração climática e uma alta nos preços e custos.

Segundo o ambientalista Marcelo Furtado (Soberania & Clima), pela primeira vez na história, a crise dos alimentos alcança a escala de ‘elemento estratégico’ para os países, posição ultimamente reservada à autonomia energética.

Nesse contexto, a precipitação dos países europeus, deixando de lado tratados multilaterais para correr individualmente atrás de independência alimentar, está atropelando acordos que tratam desde o clima até o livre comércio, incluídos aí a transição energética, migrações e soberanias.

Se, por um lado, o Brasil está novamente longe do conflito, por outro, está, mais do que nunca, no epicentro da crise (e da sua solução), por ser um ator de primeira grandeza nos dois temas centrais: produção de alimentos e mudança climática.

Somos um dos maiores produtores de alimentos do planeta, abastecendo 200 países a partir de um cinturão produtivo que atravessa o Brasil do Sul ao Norte, segundo o especialista Marcos Jank (Insper).

Ao mesmo tempo, aqui se encontram a maior parte da floresta amazônica, o maior estoque de água doce do mundo e uma colossal porção do oceano Atlântico.

A cientista Ana Yang demonstra, com simulações da Chatham House (Londres), que a América Latina ganha importância nesse momento, com aumento do interesse dos europeus em se aproximarem do Brasil. O próprio presidente ucraniano procurou esta semana o governo brasileiro para tratar do mercado de alimentos.

A tempestade internacional, dessa vez, passa por aqui. A Amazônia e o nosso agronegócio estarão na mesa global de negociação (ou no front de batalha) com, ou sem, o Brasil. Que saudade do governo.

 

Felipe Sampaio – membro do Centro Soberania e Clima; ex-assessor especial dos ministros da Defesa (2016-2018) e da Segurança Pública (2018); foi secretário executivo de Segurança Urbana do Recife.

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