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O Brasil na transição para a “era verde” (Antônio Carlos de Medeiros)

O Brasil tem base real para a co-liderança no Pacto Verde, validando um regime de metas ambientais consensual

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1 de 1 imagem de árvores vistas de baixo - Foto: Andre Borges/Esp. Metrópoles

Sem a Amazônia repaginada, o Acordo de Paris terá dificuldade de virar realidade no horizonte de 2030 e 2050. Por isto, é grande a expectativa sobre a agenda que o Brasil levará para a Cúpula do G-20 em Roma nesse fim de semana e para a COP26, logo em seguida em Glasgow. O Brasil continuará na contramão?

O sucesso da COP26 requer criar condições para um processo de repaginação da Amazônia. E a pactuação de mudanças de paradigmas na transição para a economia verde. A Amazônia faz do Brasil uma potência climática. A agenda brasileira precisa apresentar um projeto efetivo de combate ao desmatamento, assim como uma proposta de legislação de precificação do carbono – e a adesão aos artigos de integridade climática do Acordo de Paris. O Brasil pode vir a ser um dos líderes do Pacto Verde que se espraia pelo planeta.

É uma transição que não pode retroceder. Vai precisar que a COP26 sinalize mudanças de paradigmas. Para começar, a revolução no sistema de energia requer abrangência global. Só assim poderá haver sincronia da equação da demanda com a equação da oferta, no processo de substituição gradual das fontes fósseis pelas fontes renováveis. Requer, ainda, a ação do Estado para catalisar investimentos na economia verde.

As análises apontam volatilidade e desequilíbrio na oferta e demanda de energia. Com riscos de desabastecimento e crise política. Apontam, ainda, que a equação fiscalista e neoliberal do Consenso de Washington não vai dar conta de catalisar o volume de investimentos apenas com investimentos privados. Já é necessário revitalizar o papel econômico do Estado. Os gastos com energia renovável precisam passar de US$ 1 trilhão para US$ 4 trilhões ao ano.

Vem daí a importância do Estado para impulsionar investimentos e coordenar uma estrutura política global de cooperação. Sem a sincronização da oferta e da demanda, a volatilidade produz inflação e desabastecimento. E compromete a transição. Hoje, os estoques de petróleo, gás e carvão estão baixos. Com alta de preços. É imperativo coordenar investimentos públicos e privados. E prestar atenção na imanência de sérios problemas políticos: se der errado, a revolução verde tem risco de forte reação política negativa das pessoas. A fúria do desabastecimento e/ou dos eventos climáticos extremos.

Em Glasgow, espera-se a tessitura do novo Consenso da Cornualha, que emergiu no encontro do G-7 em junho na Inglaterra. Lá, os líderes externaram uma nova equação: a revitalização do papel econômico do Estado; a opção das sociedades pela reversão das desigualdades; a solidariedade internacional; e a governança global da transição para a economia verde.

Nesse contexto de instabilidade da transição, o Brasil tem base real para a co-liderança no Pacto Verde, validando um regime de metas ambientais consensual. O conceito da natureza como valor já se espraiou para além da energia e penetrou nas empresas, nas seguradoras e nos mercados financeiros. Essa noção do valor econômico da natureza transforma o Brasil numa potência climática.

 

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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