metropoles.com

O Brasil de Bolsonaro já não é uma democracia (por Gustavo Krause)

A corrupção usa as instituições democráticas para o enriquecimento pessoal

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Foto: Fábio Vieira/Metrópoles
protesto bolsonarista primeiro de maio (13)
1 de 1 protesto bolsonarista primeiro de maio (13) - Foto: Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

“Corrupção é um sintoma de que alguma coisa está errada na gestão do estado [..] Em presença da corrupção, as instituições públicas são usadas para enriquecimento pessoal e para distribuição de benefícios a outros corruptos” (Corrupção e governo: causas, consequências e reforma/ Susan Rose-Ackerman e Bonnie Lafipka – Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020).

Trata-se de uma obra densa. A síntese conceitual revela a profundidade da corrupção e sugere que o combate ao deletério fenômeno atenda à múltipla visão da diversidade das causas: políticas, econômicas, sociais, institucionais e culturais.

De logo, alerta para o discurso moralista, retórica populista e bandeira do combate aos fatos visíveis com ênfase nos aspectos jurídico-penais: um apelo simplista e sedutor quando as raízes da corrupção exigem uma agenda reformista ampla e consistente. O enfrentamento da questão, além de permanente, se coloca diante de uma “economia criminal” que permeia o tecido social das nações de modo complexo e sustentada por uma força destruidora a exemplo das estratégias e do aparato tecnológico do narcotráfico.

É um sistema globalizado que resulta de um conluio entre autoridades e criminosos: a máfia do século XXI. O Brasil ultrapassou a era da propina e do pixuleco. No arsenal das armas, a mais eficiente é a solidez da democracia. Somente a força do regime e de suas instituições são capazes de atacar o crime e assegurar a paz social.

Nesta linha de raciocínio, Manuel Castells, respeitável estudioso da dinâmica social da democracia e pioneiro na percepção da “sociedade em rede”, em parceria com Francisco Calderon, lançaram recentemente no Brasil A nova América Latina (Ed. Schwartz – Rio de Janeiro, 2019).

Em entrevista ao Valor Econômico, Castells afirma, a partir de constatações empíricas, “a falta de representatividade dos políticos”, acrescentando que “os movimentos sociais são a defesa contra os retrocessos”. Para medir o aumento da violência e da desigualdade, criaram o índice de desenvolvimento desumano

Sobre o nosso país, foi contundente: “O Brasil de Bolsonaro já não é uma democracia […] a corrupção em grande escala, exemplificada pela Odebrecht, condicionou a política brasileira. Parte do Congresso é uma coleção de caciques regionais e grupos de pressão privada […] Tudo isso não é democracia porque a democracia é mais do que votar a cada quatro anos em eleições condicionadas pelo dinheiro e poderes ocultos”.

Porém, esperançoso, diz: “Há vida depois de Bolsonaro”.

Que prevaleça a mediania aristotélica: “virtude está no meio, os extremos são os vícios”.

Gustavo Krause foi ministro da Fazenda

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?