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O Brasil de 2022 e a Alemanha de 1932 (por Ricardo Guedes)

O Brasil e a Alemanha passaram por regimes democráticos e crises econômicas previamente à polarização e deterioração das suas instituições

atualizado

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Ditador alemão Adolf Hitler
1 de 1 Ditador alemão Adolf Hitler - Foto: The Print Collector/Print Collector/Getty Images

As similaridades entre o Brasil de 2022 e a Alemanha de 1932 são significativas. O assassinato de Marcelo Arruda do PT em Foz do Iguaçu pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho, sem relação pessoal direta, lança luzes turvas sobre o futuro próximo de nosso país, em nítido assassinato político. A fala de Bolsonaro em “fuzilar a petralhada” estimula a polarização e o ódio, liberando as amarras que contêm os cidadãos nos limites da ética e da lei. Da mesma forma que no terrorismo, onde as amarras são soltas para os ataques individuais, dentro do escopo da ideologia predatória.

Tanto o Brasil como a Alemanha passaram por regimes democráticos e crises econômicas previamente à polarização e deterioração de suas instituições. Na Alemanha, a República de Weimar perdurou de 1918 a 1933. No Brasil, o período constitucional tem perdurado de 1989 a 2022. A Alemanha passou por forte recessão econômica após a Primeira Guerra, com hiperinflação em 1922 e perda da representatividade das elites tradicionais. O Brasil passou por forte recessão econômica em 2015 durante o impeachment de Dilma Rousseff, com a perda da representatividade do PT e do PSDB. Na Alemanha, Hitler com o discurso do ódio contra a comunidade judaica e o comunismo foi eleito em 1932 com 31% dos votos totais. No Brasil, Bolsonaro com o discurso do ódio contra a “velha política” e o PT foi eleito com 32% dos votos totais em 1º turno, 39% em 2º turno. Ambos com minorias provindas das classes médias iliteratas, sem voz na sociedade, base social do fascismo.

Na Alemanha, Hitler controlou as elites empresariais, o legislativo, e o judiciário, com a eliminação da imprensa, através da SS e do Exército. No Brasil, Bolsonaro tem pressionado as elites empresariais, o legislativo, e o judiciário, com êxito limitado, com ataques sucessivos à imprensa, sem o maior controle sobre a Polícia Federal e o Exército. No caso de derrota eleitoral, a tentativa da quebra da ordem institucional se pauta pelo estilo Trump da invasão do Capitólio, adicionado a grupos militares e paramilitares em favor do golpe. Existem diferenças entre militares no governo e militares no Exército. O Exército, em sua maioria, permanece legalista; no governo, menos legalistas. A normalidade democrática ou a quebra institucional dependerá dos erros, acertos e firmeza das diversas partes nos episódios que irão se seguir. O STF continua firme em suas funções constitucionais.

Tanto no Brasil como na Alemanha, as elites foram coniventes com o andamento político. As elites, no vislumbre de interesses imediatos, erroneamente acreditaram que o discurso do ódio somente significava estratégia eleitoral, vítimas após que foram daquilo que mal avaliaram. Elites fortes com valores definidos dão rumo a um país. Elites fracas desprovidas de valores podem deixar um país ir ao caos.

Tempos turvos no prenúncio dos tempos estranhos já prenunciados.

 

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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