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Nossas vacas sagradas (por Antônio Carlos de Medeiros)

Desigualdade social e o PIB

atualizado

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Imagem colorida de uma moeda de real em um quadro. Abaixo dela, forma-se a sigla "PIB", referente a Produto Interno Bruto - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de uma moeda de real em um quadro. Abaixo dela, forma-se a sigla "PIB", referente a Produto Interno Bruto - Metrópoles - Foto: Getty Images

Celso Furtado referia-se ao PIB como a vaca sagrada dos economistas. Para ele, trata-se de um conceito ambíguo. Assim como, também para ele, seria ambíguo o conceito de taxa de crescimento do PIB.

Atualmente, temos duas recorrentes vacas sagradas no “mainstream” do debate econômico. Primeiro, a mensuração da nossa dívida pública como proporção do PIB. Segundo, a mensuração da nossa profunda distribuição desigual da riqueza nacional – a nossa velha e pornográfica desigualdade.

No debate da relação dívida/PIB costuma-se cravar que algo como 70%/80% seria o “limite” para um país emergente como o Brasil. Ninguém nunca conseguiu provar porquê. A dívida global fechou 2023 no maior patamar da história, em 307,4 trilhões de dólares. O recorde foi puxado por países como Estados Unidos, China, Japão e Brasil. 123,3% nos Estados Unidos. 74,4% no Brasil em agosto de 2023. Mundo endividado.

No debate da desigualdade, Joseph Stiglitz cravou que uma distribuição favorável seria “os 10% mais ricos não podem ter mais do que os 40% mais pobres”. Não ficou claro porquê.  É claro que necessário sempre melhorar o Índice de Gini e o IDH. Mas a numerologia torna a desigualdade outra vaca sagrada. Outro conceito ambíguo.

Pois bem. Na questão da relação dívida/PIB, Mariana Mazzucato defende que é preciso mirar em resultados de políticas públicas bem desenhadas e não em percentuais preestabelecidos de indicadores macroeconômicos.

Ela recomenda manter o indicador clássico dívida/PIB, mas com menos foco no numerador e mais foco no denominador da equação. Mais foco em políticas públicas com efeitos multiplicadores para o crescimento do PIB. Ela cita o sucesso do projeto Apollo, a ida à Lua nos anos 1960. Aqui, agora, a nova política industrial do Brasil foi desenhada nesta perspectiva de efeito multiplicador.

Na questão da desigualdade, é claro que é preciso adotar e ajustar o imposto de renda progressivo. Mas o foco precisa ser menos na desigualdade e mais na pobreza. A redução da pobreza e o aumento da riqueza são faces da mesma moeda, pontua Fernando Shüller.

Trata-se, para ele, de combinar o crescimento econômico com instituições “inclusivas”: abertura de mercado, aumento da produtividade, capacitação de pessoas, ética pública, racionalidade no gasto governamental, bom ambiente de negócios.

No Brasil, estamos cansados de saber que a pobreza é escandalosa e o crescimento é pífio e no padrão vôo de galinha. O enfrentamento dos dois problemas principais do país requer novas visões do desenvolvimento econômico no Século XXI, para além das vacas sagradas que o debate econômico consagrou. Sem dogmas.

Talvez o nosso desafio, Schüller lembrou bem, seja retomar a ideia de Mario Covas na campanha de 1989: um “choque de capitalismo”. Com ferramentas (políticas públicas) catalisadoras de novos investimentos: focar a transição energética e o combate à mudança do clima e à pobreza – com inovação e produtividade.

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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