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“Não encham o saco” (Por João Bosco Rabello)

A constatação do poder corrosivo da CPI da Covid fez Bolsonaro retomar seu discurso radical

atualizado

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Manifestantes pró Bolsonaro em frente ao STF
1 de 1 Manifestantes pró Bolsonaro em frente ao STF - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O empenho do governo não parece suficiente para evitar os danos da CPI da Covid 19. Até porque o esforço tem sido para obstruir e a defesa a qualquer custo não tem consistência para deter o avanço das investigações.

Ainda em seu início, a comissão já colheu depoimentos previsíveis, mas nem por isso superficiais. Os ex-ministros da Saúde, Henrique Mandetta e Nelson Teich, nessa ordem, cumpriram o papel de confirmar amplamente a opção do governo federal por medicamentos de eficácia não comprovada em detrimento da antecipação na contratação de vacinas.

A ausência do último ex-ministro, Eduardo Pazuello, exibiu a vulnerabilidade e o receio do governo por ser o general o fio desencapado do enredo. Seu despreparo para o cargo o mantém inseguro para sustentar as decisões tomadas sem comprometer o presidente, a quem obedeceu “por ter juízo”, na contraofensiva às medidas sanitárias da Organização Mundial da Saúde.

Por isso, é possivelmente precipitada e ansiosa a frustração da comissão com Nelson Teich, de quem senadores oposicionistas esperavam mais. Teich não poderia oferecer mais que a razão de sua saída, já que ficou menos de um mês no cargo, que mais parece rodeio de touro, onde ganha quem fica mais tempo sem cair.

Na verdade, desistiu dele por não trocar sua biografia pela defesa da cloroquina. Mandetta, que o antecedeu, foi mais longe: denunciou a tentativa de Bolsonaro de inserir na bula da cloroquina a prescrição contra a Covid.

O atual ministro, Marcelo Queiroga, exibiu a contradição entre a sua pregação pelos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela vacinação com o discurso e comportamento presidenciais que não mudaram – e não mudarão.

Consta que na conversa que antecedeu sua nomeação para o cargo, Queiroga disse ao presidente que não poderia deixar de recomendar o isolamento e a vacinação e que teria ouvido em resposta: “Faz seu discurso que eu faço o meu”.

Seria interessante Queiroga explicar a razão de aceitar a missão mesmo depois de saber que o presidente sustentaria uma orientação diversa da sua. Na verdade, tão oposta que mais se caracteriza como oposição ou boicote.

A desvantagem na CPI e a constatação de seu poder corrosivo fez Bolsonaro retomar o discurso radical, apenas taticamente suspenso, e resgatar a agressão à China, a mofada ameaça de intervenção militar e , agora, um decreto para extinguir o isolamento social já desafiando o Supremo Tribunal Federal a derrubá-lo.

É um discurso para convertidos, que segue o script do confronto. Uma semana antes, o presidente convocara seus eleitores para pedirem intervenção nas ruas. Por isso, as manifestações tinham a palavra de ordem ensaiada “eu autorizo”, cantada em coro.

É uma bravata sem respaldo político e jurídico. Os militares, sempre o sujeito das frases ameaçadoras, estão preocupados mesmo é com o desempenho de Pazzuelo na CPI com potencial para agravar a imagem das Forças Armadas, arranhando o valor que lhes é mais caro junto à população – o da eficiência.

A estatística de óbitos da Covid, que há muito incluiu figuras queridas da população, e agora acrescenta o do ator e humorista Paulo Gustavo, amplia a sensação de perda para além dos limites familiares e redimensiona a tragédia. Não só o parente se foi, mas aquele artista que a família assistia unida na televisão nas noites comuns de novela de que fala o samba.

Muito mais virá ainda. Se Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo, se pôs a denunciar erros na contratação de vacinas a ponto de justificar-se sua convocação pela CPI, não será estranho ou inusitado que também o vereador Carlos Bolsonaro o seja.

Carlos voltou à ribalta para reorientar o discurso do pai mostrando, mais uma vez, que a comunicação institucional do governo é mero protocolo. Quando considera necessário reaparece no estilo truculento de sempre com o qual o presidente se sente mais confortável.

CPIs não têm por finalidade formal o impeachment. Pode até levar a ele, mas seu poder é o de um cupim eleitoral. Está nos primeiros de seus 90 dias, que podem virar 180, se houver munição suficiente para tanto.

O governo ajuda com munição quando opta por insuflar seus 30% de eleitores fidelizados com discurso chulo. “Não encham o saco”, disse Bolsonaro em seu twitter aos senadores.

É tudo o que a CPI vai fazer.

 

João Bosco Rabello escreve no https://capitalpolitico.com/

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